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terça-feira, 14 de dezembro de 2010
Branco ou amarelo, o caminho ainda é o mesmo
Vou me pôr
no lugar do Sol
Pertencer ao horizonte
e não deixar o mar só.
Poeta ou não, poente
Em sua pele azul
um amarelo cintilante
durante todo o dia
e ao dormir em noite
deixarei a Lua de vigia
Sendo branco ou amarelo
o caminho ainda é o mesmo
O mundo clama por desvelo
não quer tornar-se sesmo
sem vida, rarefeito flagelo
Mas antes fogo do que ego
sábado, 27 de novembro de 2010
Flores de um vestido
Com os braços abertos
girava com seu vestido rodado
no meio de um jardim florido
esvaindo-se com os pulsos cortados
Fitava sorridente o céu
como se quisesse colher estrelas
e dormir com elas sobre a lua.
Caído e quieto permanecia o chapéu
Lágrimas, suor e sangue
respingavam sobre as flores
pincelando a sua última arte
berço eterno em vermelho-mangue
O céu escurecia em seus olhos
e sem o chão sentia-se leve
flutuava como uma pena breve
diferente daquela em seus ombros
Ao descansar seminua
no jardim, sua nova cama
pôde sentir o gosto da alma
e camuflar uma vida tão crua
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Infernópole
Tantas motos, carros e escarros pelas ruas. O verde escondendo-se atrás de uma nuvem cinza. O chiclete apaixonado derrete-se agarrado no solo quente. Os pombos em choque, sobre os fios expostos, com os olhos grandes e ardidos; assistem mudos ao espetáculo.
Quando a noite chega, o chão esfria a cabeça... Bocas-de-lobo arrotam uma lavagem indigesta, tragando e baforando restos de bitucas de cigarro e de refrigerantes quentes. Ratos e baratas se encontram para compartilhar fragmentos de sanduíches hot-dog e farelos de coxinha.
As pessoas dormem, e o vento rasteiro muda a página de um jornal; o céu continua lendo. Noutro dia, logo cedo, uma nova notícia desperta ao som da repetida sinfonia. Iniciado por uma buzina infernal, o show se estende ao longo do dia e a vida continua sendo normal, quem diria...
Quando a noite chega, o chão esfria a cabeça... Bocas-de-lobo arrotam uma lavagem indigesta, tragando e baforando restos de bitucas de cigarro e de refrigerantes quentes. Ratos e baratas se encontram para compartilhar fragmentos de sanduíches hot-dog e farelos de coxinha.
As pessoas dormem, e o vento rasteiro muda a página de um jornal; o céu continua lendo. Noutro dia, logo cedo, uma nova notícia desperta ao som da repetida sinfonia. Iniciado por uma buzina infernal, o show se estende ao longo do dia e a vida continua sendo normal, quem diria...
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
domingo, 21 de novembro de 2010
Nu escuro
Cedo ou tarde
Preto e branco
Serão cinzas
Tragos de uma vida
Alegre ou triste
No peito que segue em riste
O coração ainda é vermelho
No corte que sangra
A mesma dor
No olho que chora
A mesma lágrima
No beijo de agora
O mesmo sabor
No sangue arvora
A face da alma
Num mundo sem luz
O escuro ainda
É igual para todos
sábado, 20 de novembro de 2010
Pelo horizonte
O horizonte não existe
É apenas miragem!
Reflexo de um corpo em repouso
Onde os olhos se perdem no nada
E que vasculham sementes no chão
No meio daquela manada
Contando voltas de um moinho
No alto da colina gramada
Caminham sozinhos
Ouvindo distante
Pegadas de chuva
E um respiro cadente
No fim da jornada
Me encontram pelas costas
Acordando o meu dorso
Com um sopro na nuca
Mas quando não encontram nada
Nesse breve lapso de ausência
Logo retorno pra mim
A alma continua calada
E não sei mais o que é existência...
É apenas miragem!
Reflexo de um corpo em repouso
Onde os olhos se perdem no nada
E que vasculham sementes no chão
No meio daquela manada
Contando voltas de um moinho
No alto da colina gramada
Caminham sozinhos
Ouvindo distante
Pegadas de chuva
E um respiro cadente
No fim da jornada
Me encontram pelas costas
Acordando o meu dorso
Com um sopro na nuca
Mas quando não encontram nada
Nesse breve lapso de ausência
Logo retorno pra mim
A alma continua calada
E não sei mais o que é existência...
terça-feira, 9 de novembro de 2010
Uma dúvida, uma fantasia e dois lados
? é um gancho
Que pode rasgar
Bem no meio alguém
Que em duas partes
Então dividido fica
Assim não se esclarece
A dúvida primária
Do que é o Todo
Um ! de baseball
Também machuca
Mas o meu outro
Lado vai ceder
Se o tal de ?
Me pegar
E não dá pra sair
Por aí pulando
Igual Saci-Pererê
Com um taco na mão
Já pensou a guerra ?!
Sou apenas um.
Sem dois lados
Posso até ficar
Com os trapos
E um corte:
Se ele for pequeno
Nada que ... não resolvam
Mas se ele for grande
Até de cima dará pra ver
O resultado final = %
Que pode rasgar
Bem no meio alguém
Que em duas partes
Então dividido fica
Assim não se esclarece
A dúvida primária
Do que é o Todo
Um ! de baseball
Também machuca
Mas o meu outro
Lado vai ceder
Se o tal de ?
Me pegar
E não dá pra sair
Por aí pulando
Igual Saci-Pererê
Com um taco na mão
Já pensou a guerra ?!
Sou apenas um.
Sem dois lados
Posso até ficar
Com os trapos
E um corte:
Se ele for pequeno
Nada que ... não resolvam
Mas se ele for grande
Até de cima dará pra ver
O resultado final = %
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Não sei se minha vida é escrever
Não sei se minha vida é escrever
Sei que ela me escreve, me desenha,
me pinta em tantas paredes...
No tronco da árvore, no banco da praça,
na pétala clara, no concreto mole daquela calçada
Me esboça surreal na tela em branco,
no quadro negro, na agenda, caderno
e na carteira da escola,
debaixo da escada, no estrado da cama,
em ranhura na estrada,
e na areia da praia, letras e formas de pé
No papel perfumado alado eu meu sinto
quando sou aspirado...
(e flutuo com intento e eu tento tanto)
Esta é a vida! Sua cor preferida?
Vermelho indiano, vermelho carmim
Vermelho mundano, vermelho sem fim
Me tatua quente na pedra fria
poente na pele nua, pra todo o sempre
desenhado na teia, esparramado na lua
Sou tinta óleo pra quem me olha
bem lá no fundo
um livro ilustrado que alguém desfolha
pra guardar de lembrança
Assim esfrio com o vento
e como as pedras da rua
enfim, a vida me perpetua
secando meu sangue no tempo
domingo, 7 de novembro de 2010
Trovart
Trago no meu peito
Razões em cinzas
O coração é meu leito
Verve de brisas
Anunciando um canto
Raio com asas
Trovejando imperfeito
Razões em cinzas
O coração é meu leito
Verve de brisas
Anunciando um canto
Raio com asas
Trovejando imperfeito
No purgatório
Um vermelho-chama queimando silencioso em minhas veias. Rasga o meu corpo insano que inflama. Atrás do espelho, meus olhos-guaraná anseiam a fêmea vestir-se seminua. Meu corpo se derrete, torcendo pra que ela cometa os maiores pecados ao longo do dia...
E quando ela descansar enfim, meus braços grossos e suados confortarão sua nudez em mim; então tocarei os seus lábios. Seu corpo iluminado de diva irá dissipar-se aos poucos, enquanto a alma ainda viva consumir, os nossos desejos mais loucos...
E quando ela descansar enfim, meus braços grossos e suados confortarão sua nudez em mim; então tocarei os seus lábios. Seu corpo iluminado de diva irá dissipar-se aos poucos, enquanto a alma ainda viva consumir, os nossos desejos mais loucos...
sábado, 6 de novembro de 2010
Que se lasque
Se o teu coração é de pedra
A pedra que se lasque!
Quem sabe não vire diamante
Mesmo que sejas brutamontes
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
O mundo está mudando
O mundo está mudando
A casa vazia
Falta luz
Ecoam o pó
e o silêncio
de um Big-Bang só
Num canto escuro do tempo...
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Pla... tônica garçom, por favor
? é universal
O numeral também
E não me faz mal
Quando a saudade vem
Pois de mim pra ti
Há um amor que vai além
Mas nesse esteio musical
Vou indo de Dó pra Si
Porque depois que te vi
Nota-se que tornei-me refém
Tu vieste, eu me escondi
Pra não ser mais ninguém...
O numeral também
E não me faz mal
Quando a saudade vem
Pois de mim pra ti
Há um amor que vai além
Mas nesse esteio musical
Vou indo de Dó pra Si
Porque depois que te vi
Nota-se que tornei-me refém
Tu vieste, eu me escondi
Pra não ser mais ninguém...
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Cantada à italiana
"Uma cantada de um português para uma jovem e bela italiana..."
Cantada à italiana
É vero que te quero
Mais do que tudo
E em tua língua espero
Dissolver o meu mundo.
Serei teu molho pardo
Prato predileto de rainha.
Depois o doce bastardo
Querendo que sejas minha.
Ou a azeitona da tua pizza.
Com orégano não me engano.
Já que és a dona, me belisca!
Meu gosto é mais do que profano.
Sabes que moro em Benfica
E que ainda sou lusitano
Mas sigo lembrando a dica
Pois entra ano e sai ano!
E quem não arrisca não petisca...
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Um bom semideus
Quero flutuar como nos meus sonhos em noites tranquilas. Sentir-me um pássaro nos dias de Sol sob à chuva da tarde. Mover pedras de lugar e virar conchas à beira-mar só com a força do pensamento. Além das barreiras, poder transpor paredes para espiar de perto. Tornar-me invisível e totalmente despido aos olhos nus.
Desativar as bombas das guerras vãs e travar os gatilhos de todas as armas. Morreriam sem a certeza sobre quem seria capaz de realizar tal proeza. Quero recarregar a bateria das pessoas tristes ao cantar em seus ouvidos e poder secar as lágrimas de qualquer choro animal com apenas um sopro.
Após tapar todas as chaminés das fábricas, restaria esvaziar os pneus de todos os veículos, desligar todas as máquinas e derreter todos os plásticos que moldam a sociedade.Com a febre de massa e o capital de terceira-idade seria radical com graça fazendo um enorme bolo fecal.
Eu saberia de novos inimigos, mas faria novos amigos, porém, aqueles que falam bem de mim pelas costas. E quando eu me deitasse para despertar em luz, sei que meus olhos-veneziana não abririam mais no escuro. Mesmo assim, sendo carne fria ou pó, com ou sem pedra marfim, a Terra não passaria fome, porque eu seria uma pétala e só mais uma poesia que se consome...
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
A gruta
Após percorrer tanto a pé sobre uma trilha estreita, dentro de uma mata fechada, e de me deparar com tal beleza singular, precisei chegar mais perto para apreciá-la melhor. Passei a admirá-la cada vez mais, e toda visita que lhe fazia, meu fascínio aumentava.
A curiosidade era tanta, que eu passava horas à observá-la (Jamais ousaram adentrá-la). Fui o primeiro a descobri-la e a conhecer cada detalhe dessa bela obra da natureza. Permanece ainda tão misteriosa, com galhos no alto cobrindo a entrada, lembrando muito uma árvore-chorão. Galhos que flutuam suavemente, bailando ao vento. Mas ainda não sei por onde começar.
Continuo aflito e confesso que poder desbravá-la será romper um limite. O que poderá acontecer se algo der errado? E se minha lanterna falhar no escuro? E eu não conseguir achar o caminho de volta? Só de pensar me dá um calafrio na espinha!
Trago na mochila apenas uma fruta, algumas nozes e até um punhado de cubinhos de queijo, para acompanhar com um bom vinho tinto. A grande espera pela conquista! É, mas infelizmente, na garganta desta gruta, só poderei entrar e finalmente brindar, quando eu tiver um cálice para sempre...
domingo, 24 de outubro de 2010
Inércia ao sugo
Sou de vagar
Aos olhos velozes
Que de tão famintos
Só conhecem o vácuo
Entre a visão
E o buraco negro
Do estômago
A esperteza desconhece
A própria natureza
E ignora tanto os sabores
Da vida, da comida
Da partida, da reflexão
Da partilha, da conquista
Da boa música, da lágrima
E depois ou antes dela, um abraço
Correm mais que o sangue
De suas próprias veias
Mal sabem o quanto cresceu
Aquela árvore na calçada
Ou aqueles sobrinhos
-- Sobrinhos? --
E aquelas flores
Tão vivas e perfumadas
Resistindo sobre um chão
Feio e quebradiço,
Mas elas continuam belas
Mesmo que não digam nada
Afinal, ninguém conversa com elas
Isso sim é um feito
De sobre...vivência
Pois não basta apenas
Viver por viver
Então sobre..vivam!!!
Quando puderem
Mudem de frequência
Procurem sintonizar-se
Nas boas estações
Onde a chuva
Não é ácida o suficiente
Para corroer a bondade
Mesmo que contida
Daquela velha criança
Tão ingênua, mas que sonhava
E tinha muita esperança
(e eu quero tanto correr
novamente na chuva...)
Assim como as flores
O mundo quer ver
Tuas reais cores
Chega de céu cinzento!
Não bastassem as tosses
Dos veículos e fábricas
Dia-a-dia, a cada segundo
Enriqueçam sim,
Mas o espírito
Antes de tudo
Penso assim,
Mas confiram aí,
Se houver tempo
Nessa agenda pesada...
Ainda fazem da razão
O único tempero que sacia
Empedrando o coração
Nessa bacia de pura inércia
E nesse banho-maria
Além da matéria indigesta
Extrai-se apenas um molho:
A estupidez humana
sábado, 23 de outubro de 2010
A formiga e o chinelo amarelo
Mesmo que algo
Seja grande
O suficiente
Haverá sempre
Algo maior
Mesmo que você
Não veja de fato
O maior cume da Terra
É o início do espaço...
(Pensava uma garotinha ao ver uma
formiga carregando uma enorme folha,
contornando seu chinelo amarelo)
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Frio, um voyeur
Ébrio é o frio
Que se faz presente
É brio congelante
Indolor, indecente
É abril de outono
Mas ele? Sem sono
É febril no amor
No cio sem pudor
E debaixo do cobertor
Mais do que penetrante...
Que se faz presente
É brio congelante
Indolor, indecente
É abril de outono
Mas ele? Sem sono
É febril no amor
No cio sem pudor
E debaixo do cobertor
Mais do que penetrante...
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Num gole seco
E a mente vaga
Nesse meio tempo.
Espaço curto do vento
Que sopra, mas não apaga
O que há por dentro.
Olhos-sentinelas
Enxergam distraídos.
Reviram o passado.
Reabrem janelas.
A palavra nem se fala.
Desce de volta correndo
Prum canto quente do peito.
Fere lenta como adaga.
Deixa de ser momento
Tatuando vermelho-chaga.
E ela me cala e se cala.
Logo os olhos despertam.
Como cães molhados chacoalham
Pra depois dissecá-la.
E nada mais houve desde então...
Eupífio, o poeta
Sou poeta de tigela cheia.
De sentimentos diversos
Quando a Lua me clareia.
Alma condensada no vidro
Da janela da varanda
Sou orvalho odor-lavanda
Quando escorro pelo cedro.
Moinho de águas doces
Transmutadas em puro vinho
Que embriagam o caminho
De vorazes peixes ésoces.
Sou morada das sementes.
No meu peito um jardim.
Sou um anjo sem clarim,
Mas serei pasquim se mentes.
Sou bangalô da selva!
A relva na ribanceira!
O balanço da cadeira!
E nos sinos de madeira
O vento que traz a chuva...
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Um recado à escuridão
Quando o sopro da morte me rodeia
Digo a ela que meu sangue
Ainda corre quente pela veia
E que meu destino jamais escurece
Quando minha alma se incendeia
Enquanto houver o ar
Hei de voar com as palavras
E quando eu suspirar vida
Num beijo estalado
Hei de fagulhar e derreter
O escuro das horas...
Digo a ela que meu sangue
Ainda corre quente pela veia
E que meu destino jamais escurece
Quando minha alma se incendeia
Enquanto houver o ar
Hei de voar com as palavras
E quando eu suspirar vida
Num beijo estalado
Hei de fagulhar e derreter
O escuro das horas...
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Velho biruta
"Este vento no pé do ouvido
Me enche o saco!
Me deixa louco!"
(Resmungou um velho Biruta
balançando a cabeça
em tom de reprovação)
Me enche o saco!
Me deixa louco!"
(Resmungou um velho Biruta
balançando a cabeça
em tom de reprovação)
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Casal binário
Nosso diálogo
É feito sopa
De letrinhas
Quente, morna ou fria
Quando desce bem
Eu + você
Somos um casal 10
Mas quando decimal
Eu + você
Somos apenas 2...
domingo, 22 de agosto de 2010
Delito
Tomei a liberdade pra dizer:
-Estou livre!
Mas ela me embriagou de tal forma
Que acordei com a cabeça estourando
E vomitei tantas palavras a esmo
Que prometi nunca mais bebê-la!
Ressaca moral, saca?
A vida me concedeu um indulto,
Mas ser perdoado temporariamente
É o mesmo que viver carregando
Uma bola de ferro cheia de culpa
Cravada no meio do peito!
E ter a alma sob cárcere privado
Acorrentada, encolhida e trêmula
Num canto frio e escuro do silêncio...
sábado, 21 de agosto de 2010
Surrealizar-se
Banhou-se no limo do verde musgo
Arrepiou-se cheirando rosa-choque
dissolvendo o azul anis do céu da boca
Lambendo o mel dos olhos amendoados
ouviu sopros solfejados à beira-mar
E pra regar um pé de ipê amarelo no peito
aterrou na própria alma em avaria
um pára-raios para um Sol enfurecido do meio-dia
terça-feira, 17 de agosto de 2010
Folhas secas
O tempo varreu
Folhas secas
Do passado
O chão do peito
Já respira
Aliviado
E o que era
Pra ser inverno
Eterno
Hibernando
Em sono
Profundo
Agora aflora
Imponente
E fecundo
Arvorando
Reluzente
Em primavera...
Folhas secas
Do passado
O chão do peito
Já respira
Aliviado
E o que era
Pra ser inverno
Eterno
Hibernando
Em sono
Profundo
Agora aflora
Imponente
E fecundo
Arvorando
Reluzente
Em primavera...
domingo, 15 de agosto de 2010
Sinestesia, sabor poesia
Olhos e ouvidos
Portais desprotegidos
Quando invadidos
Por versos ousados
De palavras coloridas
Que irradiam na aura
E nas veias abstratas
São promessas de cura
Decretam na alma
A lei do silêncio
O toque de recolher
A reflexão em lágrima
E na boca do âmago
Uma doce sinestesia
De sabores e dissabores
Salivados de poesia...
Portais desprotegidos
Quando invadidos
Por versos ousados
De palavras coloridas
Que irradiam na aura
E nas veias abstratas
São promessas de cura
Decretam na alma
A lei do silêncio
O toque de recolher
A reflexão em lágrima
E na boca do âmago
Uma doce sinestesia
De sabores e dissabores
Salivados de poesia...
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Estrelismo
Saboreou o sucesso fugaz, tão desejado, e ganhou o mundo. Acumulou riqueza, prestígio e glamour em tapetes vermelhos. Mas brilhou tanto que cegou as retinas dos pobres mortais. E de tanto estrelismo, como estrela (de)cadente, despencou num abismo perdendo a grandeza de um astro que brilha, para virar uma anã branca. E embriagada de tristeza, orbitando vã, perdida em seu próprio espaço, agora sucumbe sem constelação, afogando-se desiludida num mar de consternação...
Lua tímida
Eu não entendia porquê ela brilhava menos. Provavelmente era por isso que ela não me aquecia, principalmente à noite. Então pensei num dia: - A Lua deve ser tímida! Pois nem sempre aparece. Então tive uma grande ideia! Quase na hora de ir pra cama, fingi que estava dormindo. Mamãe me carregou até o quarto, cobriu-me, beijou minha testa e apagou a luz, mas minutos depois... Lá estava eu andando nas pontas dos pés (Cobertos com pantufas fofas) e lentamente erguia a janela.
Já sentado no batente, sentindo um frio na barriga (com o pijama gelado) e ignorando uma conversa de grilos, dialoguei empolgado com a Lua, horas a fio. Nesse dia, ela estava sorridente! Mas antes que o Sol despertasse imponente, despedi-me dela, fechei a janela, corri pra cama e fingi dormir novamente...
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Uma essência no ar
Andava perfumada
Apesar de sua pele
Lavandar quando amava
Seu hálito e cabelos
Não eram diferentes.
Transpiravam os falos
Arbusto imponente
Nos campos floridos
Despia-se verdejante
Moça bela e prendada
Sabia que suas sementes
Germinariam na alvorada
Partira em fragmentos
Para ser toda aspirada
E curar os meus lamentos
----------------------------------------------
- Enfermeira, pode acender pra mim?
- Claro senhor!
- Obrigado moça. (semblante sereno)
- Prontinho senhor, deixarei na janela! (sorridente)
(um aroma de incenso no ar)
- Hum... que delícia, cheiro de flor. (deduziu ela)
- É minha querida esposa. (olhos fechados)
- Ah sim... Senhor, agora descanse tá? Volto lá pelas 15:00.
(ela não iria acreditar mesmo)
sábado, 7 de agosto de 2010
Idade x Imparcialidade
Depois de certa idade
recusamos algumas críticas
E usando de malícia e retóricas
resultamos em imparcialidade
Ficamos numa condição
de evitar mais um desgaste
esquivando de algum desastre
que possa afetar o coração
Quando envergamos anos a fio
(Muitas vezes pro lado errado)
tendemos a ficar de lado
achando que somos um sábio
Não pensamos em mudança
pois achamos que tudo fizemos
e no fim, nós esquecemos
dos nossos sonhos de criança
Mas quando os sonhos perdem o roteiro
a grama recobre a trilha da vida
E perdendo o caminho de volta
a alma se desfaz por inteiro...
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Meu canto
Meu canto
É um abrigo
De solfejos, palavras
Desejos, anseios
Reflexões e verdades
Bem ditas!
É um paiol
Que explode feito
Bomba-relógio
No peito
Quando a alma,
Pura pólvora
Inflama e evapora
Pela boca, em música
Então eu canto
A particulada magia-neon
Que desbrava ouvidos
E se aloja noutras almas
tic... tic... tic...
O tempo
Volta a falar
Gaguejando
E teimoso
Continua
Contando
Comigo
Refém
De atentados
Do bem
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Obrigado pai
Pai, pára e pensa
Vais descobrir
Que o amor compensa
Se estou aqui de pé
É porque me ensinaste
A caminhar com fé
A cada tropeço
Teu sorriso dizia:
-De novo filho, por ti eu torço!
É assim até hoje
Sempre me dando força
Mesmo sem que me beije
Velas meus passos
Com medo de me perder
Ou desatar nossos laços
Foram pro meu bem, eu sei
Aqueles teus sermões
E puxões de orelha que levei
Já esqueci das broncas
E não guardo rancor no peito
Assim pude desviar das pedras
Mas nunca vou esquecer
Dos teus fortes abraços
Ninho onde busquei me aquecer
Ouça... o silêncio é bobagem
Quero dizer o que sinto
Antes do fim da viagem
Obrigado pai querido!
Teu legado será ter me ensinado
O caminho de amar e de ser amado
Mesmo não tendo tudo aprendido...
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Velho, maduro e feliz
Pronto, já foi o tempo em que eu me calava
Para não ferir a quem me amava.
Agora preciso dizer o que sinto
Porque minha alma é um grande recinto,
Com um coração costurado, no meio da sala.
Ele anda palpitando com dificuldade
E após idas e vindas, a nostalgia ficou,
Além dos remendos da idade.
No espelho, velho que sou,
Por dentro ainda belo, sem pressa, eu vou
Regar mais uma flor e agradecer pela maturidade,
De quem ainda sonha e revive feliz tudo o que já amou.
Entre dois mundos
Fios desbotados
Folhas secas ao vento
Estiagem do tempo
no tempo chuvoso
Na pele, estradas rachadas,
caminhos longos, profundos
Árvore de cerne macio
agarrada em solo rochoso
vou findando com as frutas
frente aos galhos moribundos
Mas serei da Terra e do céu
Entre dois mundos
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Inspiração bardiúnica
Choviam palavras no lago da alma. A água ficou morna, ondeando multicolor aos som dos pingos. Patos, cobras, peixes e corais banhavam-se numa pintura surreal. Eis que estranhamente, uma sereia emergiu e saiu correndo assustada! Mas por que cobrir os seios?
Já acostumadas, as vitórias-régias brindavam-se como taças, e bêbadas viam o mundo girar. -Deszzze maizuma! (Dizia uma delas). Enquanto as nuvens gargalhavam trovões ao servirem a trupe. Mas noutro dia... a ressaca de um poeta.
Orgasmo
Orgasmo
É sarcasmo
Do sexo
Calado
Pulsa
Espasmo
Gargalha
Nos plexos
Do corpo
Pasmado
Transmuta
Oxigênio
Em ar do cosmo
Dissolve
Suspiros
Na carne
Exposta
Um
Doce
Efêmero
Insaciável!
A folha e a lagarta
Venha lagarta!
Beije-me com os teus pés macios
Devore-me aos poucos...
Teu casulo, meu abrigo
Aonde fores voo contigo
Serei as cores das tuas asas
Teu bico nas flores nuas
E nas alvoradas
A confidente dos teus amores
Sozinho no inverno
Com um terno de linho
num inverno de vinho
eu hiberno no ninho
Me alinho em meu leito
e sozinho lamento
o espinho no peito
Deito e me calo
Espreito o estalo
do graveto lançado
na lareira da sala
Meus olhos espelham
a fogueira, as fagulhas
que clareiam o sofá,
o raque, o vaso com flores
Uma silhueta sinuosa
pintada na parede
dança e hipnotiza
Vagarosa se despede
Sem tê-la em meus braços
os olhos vão fechando...
Buscando teu doce beijo
no vilarejo dos meus sonhos
Longe dos ventos
Uma pena só, que flutua. Alma penada escondida no lado escuro da lua, empenada pela vida. Longe dos ventos me abrigo no silêncio, arrastando um pano puído que lambe o asfalto frio. Meus cabelos longos aquecem minha nuca e o corpo inteiro fita a fogueira que dança.
Este é o único abraço caloroso do dia e não sei definir mais o que é água morna. Sou uma lagarta tímida e fraca, sem comida farta. Longe dos ventos durmo quieto no casulo do tempo. Esperando no leito as novas asas se abrirem, pra me alçar deste abismo. Antes que o fim seja decreto...
Pra que te quero Íris?
Há beleza na loucura
e a brancura dos meus olhos
é um quadro sem moldura
com um céu de raios vermelhos
Sem a certeza de uma cura
não me reflito nos espelhos
mas carrego bruma obscura
com todos os meus medos
Pra que te quero Íris?
És redemoinho do mar
sugando cores do mal
de realidades vis!
Venha Sol do meio-dia
Vou concretar meus ouvidos
Queimar minhas retinas
e só viver de devaneios!
E se tudo fosse grudado?
Às vezes olho a esmo
para entender o vazio
que agora me preenche
e não há mais espaço
A pressão é tamanha
que sinto que o ar
se liquefaz nos olhos
e os ouvidos apitam
Sim, sou um botijão humano
e a cabeça uma panela!
Então fixo o olhar
No vão da pele mosaico
No vão dos dedos
No vão das portas
No vão das janelas
No vão dos muros
No vão dos murmúrios
No vão do ar
Nos vãos...
Não vão responder?
Depois de um tempo
percebo que a visão turva
me poupa nas buscas em vão
pois preciso olhar para dentro
Mas e se tudo fosse grudado?
Nada seria em vão!
Não haveria vão!
Nem o oco do coração!
Mensagem de um poeta que partiu
Deixo o corpo para alimentar a terra. A mão em repouso conforta palavras. Em todo fim há um fim, e sei que muitas árvores, frutas, plantas e flores brotarão pelo jardim. As borboletas virão bailar sobre novas cores e os pássaros cantarão alegres sob o orvalho. Seguirei viagem ao destino dos olhos, para pintar arcos nas íris e soprar encantos nos ouvidos, reverberar nas almas. A minha, já decretada, despertará num novo dia, pois na manhã ensolarada, serei legado de poesia...
Dna Augusta
Dna Augusta é uma madrasta muito acolhedora e com um coração enorme, sempre vigiando suas filhas. Suas garotas são belas e muito divertidas, trabalhadeiras e pontuais, mesmo sob à luz da lua. Algumas já estão na universidade e são muito espertas, um grande orgulho para todos.
Sempre desfilam no chão gélido da noite, ao som dos saltos altos, colares, pulseiras e brincos, seus anéis também parecem desfilar. De vez em quando, estrelam as bordas das sarjetas, com o brilho sedutor de um gloss perdido ou com o reflexo de um espelhinho trincado ao meio, rachado pela face híbrida da vida...
Castelo vazio
Um pedaço de tijolo úmido, uma calçada de cimento e um castelo laranja aos poucos se erguia, aos passos dos dias. Um cheiro de terra molhada no ar. Nas fendas do chão quebradiço, mudas de plantas e um mato rasteiro (Escondendo um obscuro calabouço) formavam um belo canteiro, com pedras que havia em seu bolso.
Ao lado, um banco rústico de praça, branco e descascado, servindo de sombra às flores amarelas, algumas desbotadas pelos respingos de uma pintura bem antiga, descoloridas como sua pele enrugada. Tinha como companhia as árvores com seus galhos feito mãos, que seguravam os pássaros coloridos, que se limpavam, cantavam e pareciam observar aquele homem sisudo e de boca seca e rachada.
- Eles gostam da minha presença.
- Às vezes me pego cantando como eles (sorrindo)
- Mas voo apenas com os olhos fechados. (suspirando)
- Tomamos café juntos, todos os dias
- E dou-lhes migalhas de pão.
- Aliás, que horas são? (testa franzida)
- Ah, esqueci a oração! ("chupando bala")
Bem, isso não importava tanto.
- Sabe, o vento vive pedindo passagem (exaltado)
- Resmunga mais que eu!
- E ainda teima em derrubar o meu castelo.
- Hã, mas não vai ser fácil não!
- Pois ele continua firme!
- Apesar de estar vazio. (sorrindo)
Então perguntei - Por que vazio?
- Os hóspedes ainda não chegaram! (preocupado)
A mão trêmula continuava desenhando... Era quase noite. Nenhuma visita. Não havia sorte. Não havia quase vida. Só um aroma de morte.
- E não desisto de construir! (Limpando a testa)
- Meu castelo ainda vai tocar o céu! (entusiasmado)
De repente uma pausa na fala, um silêncio momentâneo, rompido pelos traços grossos. Um pingo, e uma das janelas fechadas do castelo borrou...
- Vai chover, eu sabia! (Disfarçando com um sorriso forçado)
- Desculpe, agora vou dormir, amanhã eu continuo!
Levantou-se lentamente, deu as costas e se recolheu apressado...
Aquele senhor sabia que no fundo era como aquele castelo laranja, mas se negava a aceitar.
Hecatombe
A Terra foi chacoalhada várias vezes. Como geleia, a atmosfera foi rompida pelos oceanos e mares, que perdiam suas belas cores azul e verde ao invadirem o silêncio do espaço. As nuvens se desfaziam como algodão-doce na boca de uma criança. Novos arco-íris surgiram repentinamente.
Até as montanhas mais altas e arranha-céus foram banhados e engolidos, tsunami global. Quebradas, algumas estalactites saíram das grutas assustadas e irritadas com tanta luz. Igrejas, monumentos, palácios, estátuas, pontes, mansões, favelas, aviões, governantes, ditadores, religiosos, ateus, ricos, pobres, teses e tudo criado pelo homem despencavam à força, bailando soltos no ar, com as águas e com destroços, em picossegundos.
Os mortos que descansavam acordaram despenteados e revisitaram a superfície, sentindo novamente o cheiro das flores e do resto do verde, mesclados aos gases dos escapamentos, das fábricas e das numerosas manadas. Os ossos sentiam-se leves.
Homens-ácaros levados pelas águas sucumbiam sem oxigênio, alguns afogados com os seus egos, espatifados contra os muros ou presos sob escombros. Outros tantos desacordados pelos trancos explodiam em poucos segundos após perfurarem o espaço, com o sangue em ebulição e músculos dobrados de tamanho, os olhos empedrados saltavam exclamados.
Algumas almas foram sugadas por um feixe luminoso branco que desembocava num buraco negro; as demais se misturavam com o resto da sujeira acumulada, e aos poucos foram sendo injetadas no núcleo da Terra, para serem cremadas e esquecidas, até que os vulcões, como um furúnculo doente, passem mal e as expulsem novamente.
Numa quase-seca abrupta, sob o calor de um Sol escaldante, algumas vidas marinhas se bronzeavam, debatendo-se como os peixes, boquiabertos e olhos arregalados, pareciam aterrorizados. Além destes, outros animais revestidos com bolhas-neon misteriosas e grande parte da flora e fauna pareciam ter sido poupados, pois nada sofreram.
A Lua minguante solitária com um sorriso branco impecável observava atônita aquela fúria (Porém nada desmedida) e preferiu não comentar, afinal, ela também vivia se renovando. É uma nova fase... pensou ela. As estrelas piscavam como se aprovassem tal atitude. Algum tempo depois, a sacudida cessou e um sopro resvalou; vendaval em órbita...
Eis que inesperadamente, uma tempestade cristalina, morna, salgada e doce como soro caiu sobre a Terra seminua e então recobriu grande parte dos antigos oceanos, mares e rios, em apenas um dia, sem descanso. Pela manhã, um grande arco-íris se formou no céu. As bolhas-neon estouraram e tudo parecia recomeçar. Os pássaros voltaram a voar e a cantar sob o mesmo holofote amarelo, um novo espetáculo... Mas nenhuma voz humana foi ouvida.
Até as montanhas mais altas e arranha-céus foram banhados e engolidos, tsunami global. Quebradas, algumas estalactites saíram das grutas assustadas e irritadas com tanta luz. Igrejas, monumentos, palácios, estátuas, pontes, mansões, favelas, aviões, governantes, ditadores, religiosos, ateus, ricos, pobres, teses e tudo criado pelo homem despencavam à força, bailando soltos no ar, com as águas e com destroços, em picossegundos.
Os mortos que descansavam acordaram despenteados e revisitaram a superfície, sentindo novamente o cheiro das flores e do resto do verde, mesclados aos gases dos escapamentos, das fábricas e das numerosas manadas. Os ossos sentiam-se leves.
Homens-ácaros levados pelas águas sucumbiam sem oxigênio, alguns afogados com os seus egos, espatifados contra os muros ou presos sob escombros. Outros tantos desacordados pelos trancos explodiam em poucos segundos após perfurarem o espaço, com o sangue em ebulição e músculos dobrados de tamanho, os olhos empedrados saltavam exclamados.
Algumas almas foram sugadas por um feixe luminoso branco que desembocava num buraco negro; as demais se misturavam com o resto da sujeira acumulada, e aos poucos foram sendo injetadas no núcleo da Terra, para serem cremadas e esquecidas, até que os vulcões, como um furúnculo doente, passem mal e as expulsem novamente.
Numa quase-seca abrupta, sob o calor de um Sol escaldante, algumas vidas marinhas se bronzeavam, debatendo-se como os peixes, boquiabertos e olhos arregalados, pareciam aterrorizados. Além destes, outros animais revestidos com bolhas-neon misteriosas e grande parte da flora e fauna pareciam ter sido poupados, pois nada sofreram.
A Lua minguante solitária com um sorriso branco impecável observava atônita aquela fúria (Porém nada desmedida) e preferiu não comentar, afinal, ela também vivia se renovando. É uma nova fase... pensou ela. As estrelas piscavam como se aprovassem tal atitude. Algum tempo depois, a sacudida cessou e um sopro resvalou; vendaval em órbita...
Eis que inesperadamente, uma tempestade cristalina, morna, salgada e doce como soro caiu sobre a Terra seminua e então recobriu grande parte dos antigos oceanos, mares e rios, em apenas um dia, sem descanso. Pela manhã, um grande arco-íris se formou no céu. As bolhas-neon estouraram e tudo parecia recomeçar. Os pássaros voltaram a voar e a cantar sob o mesmo holofote amarelo, um novo espetáculo... Mas nenhuma voz humana foi ouvida.
Se a poesia fosse a bola da vez
Se a poesia fosse
A bola da vez,
Certamente seria colorida
E rolaria sobre um campo
De flores,
De árvores,
De colinas,
De pássaros...
Cairia nas veias
De águas doces e salgadas.
Seria lançada por golfinhos,
Nadaria sobre lagos
E se esconderia nas grutas.
Driblaria selvagens
E derrubaria frutas,
De pé em pé,
Lance de alce.
As copas beberiam a chuva,
Então, espelhos
Da luz do Sol,
Da brancura da Lua,
Das nuvens, estrelas
E de um mar suspenso
Azul celeste.
Uma trave com rede
Para apanhar borboletas
E permitir tocar suas asas.
Vestígios de pólen,
Meia-vida no ar,
Sem penalidades.
Entre tantas naturezas
Sentiria odores e sabores,
As dores da tristeza (Murcharia)
E a leveza dos amores. (Encheria)
Fitaria as cores das auras
E das almas, a verdade saberia,
Por meio de ocultos
E sensíveis toques.
Na arquibancada Arco-íris,
Uma cadeira VIP apenas,
De onde trovejaria o grito
De um homem grande e barbudo
Torcendo pela vida...
Amarelo, azul e cinza
A areia escoava dos meus dedos e minhas mãos em forma de ampulheta deixaram os grãos se misturarem com o chão da praia. Assim partiste sem dizer se voltarias um dia.
A sereia levou os seus medos para o fundo do mar azulado, e faceira lavou as lembranças sobre os corais vermelhos, desbotando as cores do passado. Não chove mais em minha praia. Nem sinto mais o cheiro de terra molhada. Por onde andas menina? Caminhei em tantas orlas, buscando vestígios no reflexo das ondas, molhando meus pés... E hoje escrevo com eles bem aqui nesta imensidão, "E.T.A" gigantes!
Se estiveres noutro mundo, talvez possas enxergar. Mas vem logo, antes que a maré suba demais, cobrindo minha esperança. Se eu partir mais cedo, não te preocupes. Fragmentado em várias garrafas, hei de encontrar-te em outras areias. Amarelo, azul e cinza...
Passos largos em vão
Uma estrela que brilha demais pode cegar o homem. Assim como, com a chama da vela, a cera e o pavio se consomem. Passos mágicos na Terra se vão... No espaço a Lua com formas gélidas de pé humano em estado de solidão. Os homens não valorizam a água que bebem. Tratam o planeta com desdém. Ignoram sua real condição. Uma cadência febril de imagem, mente e coração. A arte imita a vida e vice-versa, mas quando a vida estará em Marte? Se tivermos sorte, voltaremos a esta conversa...
Paixão e Ódio
Um auspicioso namoro
nutrido por paixão e ódio
com afável crueldade
sutil oximoro
Entorpeceu-me feito ópio
Das lágrimas o gosto de soro
Após amargas ressacas fiquei sóbrio
Apesar das chagas calei o choro
Mas, ébrio tal qual touro
sob o calor e o frio do solstício
o amor do ócio desperta sagaz
e não mais morro
nutrido por paixão e ódio
com afável crueldade
sutil oximoro
Entorpeceu-me feito ópio
Das lágrimas o gosto de soro
Após amargas ressacas fiquei sóbrio
Apesar das chagas calei o choro
Mas, ébrio tal qual touro
sob o calor e o frio do solstício
o amor do ócio desperta sagaz
e não mais morro
Vida abreviada
Vá lá com a cunha
Lapide a pedra calada
Com talhos se tornará lápide
na vala coberta de terra
Em baixo-relevo, nome completo
e com números pequenos
o início e o fim datados
ao lado de uma cruz
para serem crucificados
Da lasca, a faísca revela o sereno
que escorre nos galhos
que escoram o céu negro
que chora gotas ácidas
que corroem por dentro
dissolvendo no tempo
Jamais esqueças do D.C.
pois Diante do Céu
até um rei sucumbe
e perante a lei "Sem o véu"
se desnuda a face errante
A vida abreviada
com alfanuméricos
Enquanto o tempo não esquece
Deus é o universo do avesso
Verso denso e travesso
Espesso véu que desconheço
Da face guardada
Do alto que desço
Do fim ao começo
Do velho ao berço
Da alma criada
sou mais que mereço
É a boca que não fala
do silêncio que se cala
mas que ouve o sopro
invadindo o vazio do sereno
da madrugada
E que sente o pulsar
da vida que se aquece
enquanto o tempo não esquece
Vou comprar cigarro e não volto
Costurei meus lábios
Agora com retidão
Não digo mais
Nem palavra
Nem palavrinha
Nem palavrão
Às vezes é melhor mesmo ficar calado
Quando fingem estar do seu lado
Remoendo o passado e amando em minguado
Não cobrarei mais o que já foi cobrado
Fique com o troco!
Vou comprar cigarro
Eu e meu fumo
Partiremos sem rumo,
Num belo trem!
Numa só jornada
Sem volta, sem revolta
Sentir o cheiro da mata
Fitar novas flores
Tragar novos sabores...
Não sou o que eu era ontem
Não sou melhor que ninguém
Mas hoje sou maior, pro que me convém.
Cadafalso pelóleo
Quem irá
Ser contra
O Iraque
Agora? Al Gore?
Será que
A ira que
Disputa terras
Tem dois lados?
Extrai o
Preto do
Tutano do
Osso
Fosse
Isto
Posto
Se não
Fosse
Gente de
Posse de
Foice
Transparente
Um passo
Cada falso
Num cadafalso,
Mas só
d
e
s
p
e
n
c
a
O bigode
Preto
Oleoso
Saldam uns cem
Morto(s)!
Mas e o
Bucho do
Bush?
Intacto!
Como seu
Cabelo...
Eu x Família
Do peito veio o canto mal ouvido
Por quem se move por sobrevivência
E procura demonstrar sapiência
Mas que se escora no passado
Não ligo mais em tomada sem energia
Nem fico mais em estado de choque
Mostro o que vem da alma em avaria
Mesmo que este não seja o enfoque
Minha entonação se tornou mais forte
E as palavras mais que cruzadas
Perfuraram as bocas caladas
Deixando um profundo corte
Cansei de me fazer de bonzinho
Não me reconhecem como se deveria
E nem saio mais de fininho
Porque meu coração não permitiria
Mesmo assim deixo que me neguem
Faço de conta que nem ouço
Pago a conta do almoço
Mas não deixo que me violem...
Por quem se move por sobrevivência
E procura demonstrar sapiência
Mas que se escora no passado
Não ligo mais em tomada sem energia
Nem fico mais em estado de choque
Mostro o que vem da alma em avaria
Mesmo que este não seja o enfoque
Minha entonação se tornou mais forte
E as palavras mais que cruzadas
Perfuraram as bocas caladas
Deixando um profundo corte
Cansei de me fazer de bonzinho
Não me reconhecem como se deveria
E nem saio mais de fininho
Porque meu coração não permitiria
Mesmo assim deixo que me neguem
Faço de conta que nem ouço
Pago a conta do almoço
Mas não deixo que me violem...
No mesmo rumo
Se não olhamos pro mesmo horizonte
E remamos de frente pro outro,
O barco não vai adiante
E o mar fica revolto.
Se não olhamos no fundo dos olhos
Não sabemos se é relevante
Guardar tantos segredos,
Mesmo sendo amantes.
Como rios nos encontramos
E não há porque desaguar
Num mangue de incertezas.
Há tanto mar a desbravar.
As diferenças pesam demais.
Vamos despejá-las pra fora
Antes que o barco afunde,
Com todos os nossos sonhos.
Vamos ancorar o coração
Nas profundezas da alma,
Sentir o sopro na vela
Que alimenta a nossa chama.
A única bússola que nos guia...
Ansiedade x Sobriedade
Como administrar o meu tempo
Se ele acelera com o meu pensamento,
Que anda muito teimoso,
Querendo prever o futuro?
Quando não, procura ter cautela
Com o que eventualmente ocorrerá,
Antecipando a colheita
Pra já ceifar o que ressecou.
Pra onde foram os frutos?
Meu lobo frontal desmiolou de vez.
Está preparado pra uma guerra,
Sabe lá quando, como e se ela virá!
Noutro dia a vida sorri como criança,
Me refrescando mais uma vez numa boa bricandeira!
Hã, armas bélicas contra armas d'água...
Onde está aquele calmante
Pra me embriagar de sono
E me forçar a fazer as coisas pela metade?
Prostração, por prostração...
Assim diminuo o ritmo
Dessa ansiedade contra o tempo,
De uma sobriedade diluída pelo vento.
Altos e baixos
Entre altos e baixos
Vou oscilando quieto,
Viagiado por day traders da vida.
O mercado não está para peixe
E não estou à venda.
Tire de mim essa venda,
Me solte logo, me deixe!
Quero enxergar novamente...
Páre de me especular tanto.
Hoje valho mais que o dólar
E deixei de lado meu pranto,
Não tenho motivo pra chorar!
Estou em alta agora,
Não jogue a lata fora!
Ainda estou lambendo a tampa...
Opa, a bolsa perdeu o zíper!
O que faço agora? Start ou stop?
Ah não, de novo? Crash geral!
Cai novamente...
Bendita saudade
Sentí-la como éter na pele
É ter um segundo tão breve
Do teu frescor tão ardente
Evaporando de mim
Teu cheiro jaz enfim
E teu calor se faz ausente
Sem ti, lá no fundo, me fere.
Iracundo mais nada me serve
E outro sabor me ressente
Perdendo o caminho de volta
Me abrigo numa colina
Mas continuo errante
Sem ti, nem sentido faz
Nem tenho tido paz
Em minha alma carente
E sozinho anda agitado
Esse meu coração flagelado.
Bendita saudade cortante!
Mistura x Solução
Xeroque os meus medos
E "scanneie" minha alma
Verás o preto-e-branco
Invadindo outras cores
Arco-íris na tempestade
Suavizando relâmpagos
A alma imersa no medo
O medo contido na alma
De mim sei que sou Sheik
Mas viu que pareço Milk Shake?
Sou borra enigmática
Numa xícara de café
Buscando uma solução
Dentro desta mistura
Sou um cara de fé!
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