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terça-feira, 20 de dezembro de 2011
Automanha
Serei criança eterna
Rolarei na grama
Pintarei o 7
Jogarei fliperama
Derrubarei o 8
E dele farei autorama
Voo nas curvas do infinito
Caipirando
O cheiro de celeiro
Na beira da cachoeira
Um tronco de madeira
Guaranás fitando o ribeiro
Seiva do verde na leiva
A terra dá sede e cativa
Flores ninfas do céu
Exalam de pernas abertas
Cores filhas de estrelas
Pingo de chuva no rosto
A tarde que vira saudade
Domingo revela a idade
O fácil do ócio no encosto
O Sol se põe com leveza
Acena num tom de tristeza
No fim faço o que posso
Rezo com pose de bom moço
Preciso de tudo isso
E mais um poço
Lagos, cavalos, galos
Regalos em gargalos...
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
A última ceia?
Há um rastro de macas
Há um risco de faca
Tatuado no meio do peito
E um crucifixo molhado
Com cheiro de soro
Que escorre no leito
Há um som de reclame
Enquanto não chega o exame
Mais uma fita cortada
Mas a Rita coitada
Quase teve um derrame
Com a voz do prefeito
Ponha o nojo no estojo
Guarde a ferramenta
E o chicle de pimenta
Mascado dentro do bojo
Deixe o suor aliviar a dor
Do corpo cansado
A morte é iminente
E não faz mal
Hoje é passado
Amanhã é Natal
Viva o presente
sábado, 3 de dezembro de 2011
Placebo
Pontas dos dedos fecham os olhos
Palmas das mãos escoram a face
encoberta rendição
Alma cansada...
Às vezes mato um poeta
Quero um banho relaxante de Lua
Esparramar-me em nuvens densas
e ter o peso sob os meus ombros.
Inverso desejo
Meu céu é quase todo negro
se não fossem as estrelas
que me revelam
Mas ainda é cedo
Antes de esvair-se a madrugada
quero e percebo:
Preciso sem medo
engolir o Universo
Placebo, soluço, alvorada
terça-feira, 22 de novembro de 2011
Meu canto
Meu canto
É um abrigo
De solfejos, palavras
Desejos, anseios
Reflexões e verdades
Bem ditas!
É um paiol
Que explode feito
Bomba-relógio
No peito
Quando a alma
Pura pólvora
Inflama e evapora
Pela boca, em música
Então eu canto
A particulada magia-neon
Que desbrava ouvidos
E se aloja noutras almas
tic... tic... tic...
O tempo
Volta a falar
Gaguejando
E teimoso
Continua
Contando
Comigo
Refém
De atentados
Do bem
domingo, 20 de novembro de 2011
Relação Homem x Universo
Seria pertinente a ideia de que, o homem ao se embrenhar nos mistérios do ocultismo, aproveitando melhor de sua sensibilidade e percepção, se concentrando em seu mundo interior e confiando mais em sua intuição passe a estabelecer um canal de comunicação com um mundo extra-senhorial e absorva conhecimentos místicos, porém às vezes tidos como divagações, concentrando um tipo de energia potencial para si mesmo? Ou o homem possui inerentemente um potencial de nascença esperando para ser despertado e manipulado?
Se o homem não nasce com esse poder ou pelo menos parcialmente, será que existe um elo onde há uma troca de energia cósmica/oculta entre o homem e o Universo? Talvez uma contribuição por parte de Deus ou até uma concessão generosa de uma fração de seus poderes, para sustentar o amor, bem-estar na humanidade, disseminar lições de sabedoria, participando o homem como intermediário, que esteja mais envolvido espiritualmente e seja um questionador nato de circunstâncias da vida? São questões a serem refletidas...
Se de fato essa troca ou fusão existe, poderíamos explicar em tese porque alguns homens são mais influentes, participativos e se destacam dos demais numa sociedade, alguns com admirável sabedoria e notoriedade. Apesar de muitos durante a história terem usado esse dom de forma equivocada, insana, fanática e desumana, muitas vezes apoiando-se no poderio militar, humilhando, cometendo atrocidades e dizimando culturas, raças e nações; cicatrizes eternas no corpo e na memória.
Sabemos que uma pequena parcela da população é bem-sucedida em vários campos da vida. Acredito que essa fatia da humanidade pode possuir segredos, conscientes e/ou inconscientes (Em estado latente) e os usam de acordo com a necessidade. Alem disso, seriam essas pessoas mais evoluídas espiritualmente de acordo com um aprendizado adquirido de possíveis vidas passadas?
Essas pessoas especiais provavelmente adotam uma postura peculiar perante as circunstâncias da vida. Se nutrem de pensamentos positivos (Ou de pensamentos que elas acreditam serem corretos e benéficos) e tendem a não se importar muito com situações adversas e preocupações desnecessárias, uma vez que acreditam que sempre há uma forma de superação diante dos obstáculos, e que no “final das contas” tudo entrará no eixo. A esperança é uma premissa constante, ou seja, usa-se a resiliência com sapiência. Seria o mesmo que afirmar com convicção que, mesmo que um carro esteja em auto-estrada num breu total, a pouca luz que o mantém na rota já é o suficiente para fazê-lo chegar ao destino esperado, então teoricamente, não há o que temer.
Existe uma técnica interessante conhecida como “visualização criativa” que nada mais é do que praticar a imaginação, onde se exercita mentalmente uma determinada situação ou mesmo objetos de interesse, desejados por quem pratica a visualização. Sendo a técnica aplicada ainda com emoção durante o processo e de forma constante, um campo magnético se forma em torno da pessoa e naturalmente o que foi imaginado de fato se concretiza em algum momento. Alguns estudos tem levantado questões interessantes sobre a capacidade mental humana, além do corpo, com relação a uma interação intrínseca e fluente do homem com tudo que está à sua volta.
Esse tipo de imaginação em torno da “visualização criativa” não deixa de ter um teor místico e o resultado dessa criação virtual dependerá muito de intuição e sensibilidade das pessoas. A mente por si só é essencialmente complexa e provavelmente unida à intuição, pode fazer um convite às leis universais, informando que o homem estará presente, disposto a compartilhar experiências direcionadas para usufruto próprio.
Dessa forma, o homem passa a permanecer imerso num rio que corre de acordo com seus desejos e sonhos. Resta saber o que o Universo ganhará em troca uma vez que ele seja generoso ao conceber realizações sonhadas pelo homem, a partir desse “acordo” espiritualizado.
Baseado nesse conceito da imaginação associada às emoções, acredita-se que tudo o que somos e temos atualmente em nossas vidas são reflexos do que sentimos e reagimos no passado, e que dessas experiências sobram fragmentos, tanto bons quanto ruins, de acordo com escolhas que tenhamos feito. De qualquer forma, esses resquícios parecem permanecer armazenados em nosso subconsciente e nós mesmos atraímos situações atuais devido aos estímulos que já ocorreram, uma força (Carga) de vetor resultante de ação + reação (Determinante para mudar uma situação futura) + sentimentos residuais.
sábado, 29 de outubro de 2011
sábado, 1 de outubro de 2011
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
Conforme-se
Conforme-se com as circunstâncias da vida
se elas em troca lhe derem experiência
Saiba, mesmo que você se forme na melhor escola
não terá aprendido que a fome valoriza a comida
Que a indiferença frente aos seus erros valoriza o perdão
O que se consome em demasia fica em gaveta esquecida
E que, enquanto você "dorme acordado" a ignorância te assola
Tome cuidado com promessas em vão
Dome suas palavras para evitar eterna ferida
Adorne seus atos e atue em cena com alegria
Não se esqueça de estender a mão
Conforme você caminha absorverá sabedoria
E por mais que tropece numa grande pedra que lhe fira
Pela dor sentirá o sabor de esmorecer a própria ira
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
Infinito
Infinito é o beijo
mais bonito que vejo
de olhos fechados
Reflexo do amor tácito
Nexo dos sonhos
Hálito de sexo
e plexo cálido
fálico e fenda
e vida e grito
mágico e música
Súplica in vitro
mais bonito que vejo
de olhos fechados
Reflexo do amor tácito
Nexo dos sonhos
Hálito de sexo
e plexo cálido
fálico e fenda
e vida e grito
mágico e música
Súplica in vitro
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
Desejo ou sina?
Meu medo é neblina
Sanco que me carrega
em noite negra de rapina
Na colina a folhagem
devora almas na matina
Matilha selvagem
Lúmen, lampejo, lamparina
A morte é desejo ou sina?
terça-feira, 16 de agosto de 2011
Só ao Sol
Aproveito-me
da elasticidade
da vida, dos dias
e duplico-me
toda vez
que, faminta,
mordisco poesias
enquanto o Sol
me visita e me tatua
no chão da varanda
Não estou só, apenas nua...
(Anorkinda e Daniel H. M. de Carvalho)
terça-feira, 2 de agosto de 2011
Sopa de pedrinhas
A verdade do meu trabalho?
Pergunte às minhas mãos...
(José Calos da Rocha Pedreira)
Pergunte às minhas mãos...
(José Calos da Rocha Pedreira)
Pesca dor
Há algo dentro de mim
que não me pertence
Não é cansaço na alma
nem a leveza da calma
mas sei que algo descansa
bem aqui no peito e assim
a vida me convence
Em meu porto-veraneio
sentado na beira do cais
sinto uma pergunta do céu
Ao meu lado uma pena caída
parece a de um papagaio
mas não sei o que responder
(com olhar de soslaio)
apenas suspiro profundo
Ah, aquelas gaivotas, que danadas!
As pontas das penas amareladas
quando não, colorem as asas
ao cruzarem o sol e o arco-íris
Sei bem por que se banham no mar
E que saudade de ver fotos...
Isso, isso mesmo, no fim da tarde
Vou abrir aquele meu baú aquarela
Pausar por um instante minha idade
Chorar e sorrir sob a luz da vela
Porque não?
Né Bob?
Vamos!
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
Vaga-lume
Voe, voe vaga-lume, aprume-se
Vá ao cume e traga-me
o perfume daquela flor
Implume preciso transpor
o negror que me consome
e acender com fulgor
o sorriso que ainda dorme...
Acenda, ascenda, por favor!
domingo, 31 de julho de 2011
Quinta estação
Mãe
Eu sempre soube
que és a quinta estação
Soma de todas as outras e bem sei
que sou semente de inverno
desta imensidão de mim mesmo
Agarrado todas as manhãs
em teu seio-Terra-divina
sinto-me tão seguro em teu colo
Solo fértil, seiva quente,
deleite sob chuva valente
Crio minhas raízes
Nutro-me de tua parte
e nos olhamos felizes
Mãe
Quando na primavera
eu estiver pronto, não esqueça
Desfie as nuvens pra mim
Deixe que o Sol apareça
Aqueça-me para que eu renasça
e então floresça enfim
Serei tua eterna criança
durante todo o verão
Todos verão
Nutra-me de esperança
mesmo que no outono
as árvores dispam-se aos poucos
de seus mantos bege,
cobrindo-te e preparando-te
para aquecê-la no próximo inverno
Então, me embale para dormir
Hibernarei silente
em sono profundo
por um instante
em ansiosa espera
mas em teu colo novamente
Até a próxima primavera
segunda-feira, 25 de julho de 2011
Dá-me tua mão
Quero a mão que afaga a nuca
e no meu peito nu o calor que acalma
A face empinada à espera do beijo
da palma que abrasa os poros da estrada
-- olhos fechando... --
Vem, me toca
Evapora estas águas que vertem salgadas
e desaguam na boca, insalubres, amargas
Barragem rompida, miragem perdida
Coragem vencida à luz da razão
Raios do chão rasgando o ar, lucidez na visão
Vem, adoça o silêncio que veste minha alma
e me resgate pra vida!
quinta-feira, 21 de julho de 2011
BrIsa bela
Brisa que passou
tocando o meu rosto
Abraço de mormaço
Aqueceu-me o coração
em seu manto de Sol
Senti-me verão
Por um instante
sorri absorto, tanto
mas, não mais presente
e pronto, o pranto
Agora fico em silêncio
estático, gélido ártico
Sou mar que não ondula mais
numa praia rara e deserta
onde só marejam os olhos
nesta busca morna e salgada
de derreter esta falta
que ela me faz
E eu tento tanto e nada
é capaz de trazê-la de volta
sábado, 16 de julho de 2011
Eclipse
Cedeu-me seus lábios...
Então olhei fixo pra cima
em busca de seus olhos
Estavam fechados e trêmulos
Sufocado por um instante
senti o gosto daquele desejo rosado
tapar-me a boca ofegante
e calar minha língua intrometida
De joelhos lambuzei-me
feito uma criança gulosa
saboreando um sorvete
de néctar orquídea-selvagem
Cedeu-me poros, pele, pelos...
Inteiros, rendemo-nos aos apelos
seguidores de estrelas fartas
do céu de mel, de vinho e paixão
Cedi meu ar rarefeito em excesso
doei-lhe a Vida que em mim é farta
Insensato que sou verti três Sóis
e nu e cru clamei por razão
Mas já era tarde; dois corpos atados
jorravam pelos meios o melhor de nós
meu Sol, sua Lua, uma só poesia
Eclipse sem fim, sem pudor, extasia...
(Daniel H. M. de Carvalho & Lena Ferreira)
sexta-feira, 15 de julho de 2011
Se fores embora
Se tu fores
Serei vaso vazio
Raso e frio
Sem flores
Ouvirei
Ecos de saudade
No escuro
Sem a tua presença de luz
Aguardaria apenas
O fim de todas as tardes
No banco daquela praça
Onde planejamos a vida
Vendo o Sol esmaecer de sono
Daria atenção às folhas
Sentadas ao meu lado
E contaria tantos segredos,
Alegrias, anseios, sonhos e medos
Permeados em nossas almas
(ah... sorrio quando lembro)
Até calar-me enfim
Com a visita da primavera
Decerto
Hei de encontrar-te por aí
Passeando, tocando e cheirando
Flores tantas...
Como aquelas que um dia colhemos
sexta-feira, 8 de julho de 2011
Olhos farsantes
Nenhum véu esconde a verdade
Que orbita os teus olhos
E se não tens hombridade
Cuidado com o vento que sopro
Minha dignidade é vendaval
Meu coração é moinho
De sangue impuro, fervente
Vinho que se bebe quente
Cortante feito um punhal
Ouças o que falo
Não pise no calo
Maldito, funesto
Insisto, irrito-me
E tenho dito!
sexta-feira, 20 de maio de 2011
Folha, alfabeto, alfazema
Vejo a boca molhada
e não beijo
Seco o corpo da amada
e me perco
Cego, não acho saída
e não nego
Pena, ponta, retina
Folha, alfabeto, alfazema
Desejo brilha em negro poema
Menina-céu, minha sina
Ensina-me a dormir
em suas nuvens...
terça-feira, 26 de abril de 2011
Nanquim
Fui me reencontrar
Onde o Sol tatuou
Pela primeira vez
Minha sombra numa rocha fria
Que descansava à beira-mar
Esperando afagos das ondas
De olhos espelhando garças
À procura de peixes na areia
Era um dia quente, sem nuvens
Foi lá onde deixei
Minha alma tão silente
Escondendo-se aos poucos
Atrás de um mato rasteiro
Do Eu do outro lado
Achei que fosse o fim...
No oco só ouvia ecos
Eu já fui tinteiro
Que vazou nanquim
Antes mesmo de a chuva levar
Qualquer pena que não tivesse
Uma ponta de esperança
segunda-feira, 25 de abril de 2011
Pólen valente
A morte é preciosa
Um detalhe da vida
Não mais dolorosa
Do que uma despedida
É quando a rosa despetala
Amarela ou avermelha
E repousa espinhos
Na carne vencida, e cala
Mas o pólen é o cerne da alma
Que aguarda ansiosa um bico
Ou ousa para que o vento a leve
Noutras terras de solo mais rico
Onde nenhum beija-flor jamais esteve
sábado, 16 de abril de 2011
Diva divina
Da diva a dádiva
Da vida de musa bela
Difusa luz de vela
Me lambuza e me desvela
Saliva seiva e me encarcera
Me sova na cela, patas de fera
Me faz de altar e sela o meu grito
Rebela o meu mar e me sorve num rito
sábado, 9 de abril de 2011
Luto sempre
Luto pela morte
Luto pela vida
Assim você escolhe
De qual lado fica
A dúvida clara
Palavra dúbia
Permanece crua
No vão da consciência
Contra a própria vontade
A etimologia? Indiferente
sexta-feira, 8 de abril de 2011
Servir
Antes fosse só a veste
Qualquer farda é amarga
quando a alma é doce
Na sobremesa à la carte
a pobre reza de Marte
que pede trégua ao Sol
mas o fogo não finda
Bala ou bola fora do canhão
O medo sangra na escuridão
Um minuto de silêncio...
Até o primeiro choro do filho
ou derradeiro estalo do gatilho
A história não estanca no tempo
quarta-feira, 6 de abril de 2011
Numa breve visita
Perdi meu casaco de penas
Num banco qualquer da estação.
Durante a viagem senti frio
Mas não esquentei muito a cabeça
Trêmulo, vesti-me de esperança
Ouvindo a cadência das rodas
Nos trilhos de um sonho silente
No brilho de um sono profundo.
Respiros que abrem caminhos
Entre cinzas que nevaram na vida
Perdi também o medo
De deixar minha alma nua
Quando me vi num campo aberto,
Eu parecia com todos em volta!
Nudismo espiritual?
Os pontos de luz pareciam estrelas
Alguns caminhavam de pontas dadas
E não havia mãos, porém
O destino parecia residir ali
Há muitos e muitos anos-luz
Eu ignorava o tempo
E o vento me contava novidades
Das árvores frutíferas
Que conversavam com pássaros
Que voavam com borboletas
Que fecundavam belas flores
Que enfeitavam as bordas dos rios
Perdi até a fome da vida!
Porque então as frutas?
Vá entender!
Mas o melhor veio depois
Quando senti cheiro de comida
E ouvi uma voz meiga
Vindo em minha direção...
Era uma bela e sensual enfermeira!
Então, logo pensei:
Bem que ela poderia ser
A erva de agora
E a Eva de outrora...
segunda-feira, 28 de março de 2011
Entre nós
Há uma verdade entre nós
O forte enlace do nosso amor
No despertar dos olhos
Dois corpos livres, amarrados
Cordas que se enroscam
Entre beijos enamorados
Não há nada que nos desate
Nem força que nos rompa
Mesmo que o tempo nos desgaste
E esfrie o nosso sangue na sombra
A brancura de nossas almas
Será alvorada pura, no céu negro da morte
quarta-feira, 23 de março de 2011
Veio da água
Enquanto um embrião não vinga
Há quem jogue fora um filho
Enquanto clama-se pela vida
Alguém da ponte pula pálido
Vidas
Antagônicas
Eufônicas
Desarmônicas
Verbetes
Que engolem
Palavras
Seria o desnível necessário?
Para que o rio seja verdade?
Arrisco um belisco em desvario!
Ora pra cima
Ora pra baixo
Reza a regra
Céu e inferno
A vida em si nua
É dúbia e insinua
Sobre o brilho da água
Eterno leite materno
quinta-feira, 17 de março de 2011
No berço da solidão
Já consigo surfar ereto
Nas minhas lágrimas
E com elas eu lustro
A senzala da minha alma
O coração em manifesto
Quer amar e ser amado
E exige o seu direito
Quer outro ao seu lado
É manhã no medo da noite
Tarde no topo do abismo
O vento corta o limite
Voa no escuro, a esmo
A névoa é o berço da morte
E o pulo? Puro paralogismo...
terça-feira, 15 de março de 2011
É hora de fazer as malas
Íris e seus filhos,
espelhos de um Sol vermelho
Carregam nos olhos
buracos negros
que sugam as almas
É hora de fazer as malas
e seguir em frente,
onde o solo não tremule a fala
não esmoreça o semblante
onde o Sol seja apenas poente
domingo, 13 de março de 2011
Ela é minha!
Minha língua a desbravar
Com fino sabor de vinho.
A sua boca taça-mar
Faz-me tonto redemoinho
O seu corpo é terra firme
Mas nado de peito em suas costas
Pois meu norte é o seu cume
E sua bússola traz-me respostas
Descortinando sua vasta ilha
A mão tão cega segue valente
Rumo à gruta no fim da trilha
Diminui o passo em solo quente
Seu vulcão silente em calmaria
Não expele e espera para espiar
Minha vela hasteada em tocaia
Quando é a hora de atracar
Ela é Gaia, maia é ela!
Ela é diva, viva e bela!
Nela vivo, vivo dela!
Ela é minha era...
sexta-feira, 11 de março de 2011
Por que isso mami?
Nos olhos da águia
Águas marejam tão rasas
Não raras banham a face-areia
Disfarce na sombra das asas
Camuflam a sobra das penas
Nas línguas, o gosto amargo
O mar go, lambidas de sal
No céu negro do estômago
Suicídio de estrelas, caos
A mãe envelhece trêmula
Os cortes ardem em segredo
O sangue com frio coagula
E os filhos partem mais cedo...
quarta-feira, 2 de março de 2011
Sanguessuga
Deixe me alimentar
nas tuas veias de ideias
Quero teu cérebro
macio, molhado e quente
trovejando neurônios
no céu da minha boca
iluminando meus dentes
Lascivo, salivo faminto
querendo sugar com sal
todo o teu tutano intelectual
A mente, mente, mente!
----- risos insanos -----
Pra mim mesmo eu minto
Sou tua sombra fractal
Mas a inveja consente
terça-feira, 1 de março de 2011
Soneto imperfeito
Soneto imperfeito
Gravetos pontiagudos
Perfeitos, espetados
No peito do próprio conceito
Fazendo do corpo
Saleiro de sangue
E na carne que dorme
O cerne que se consome
Mas e a meta do mote?
A métrica é o norte!
Enlace com corda puída
Sapatos versados de lama
Perdem-se na ponte caída
Enquanto se esvai a alma...
sábado, 26 de fevereiro de 2011
Após ingerir cogumelos
Na terra do sol nascente
os olhos parecem continuar
em regime semi-aberto
Sensíveis apenas
ao dissabor da claridade
dos cogumelos gigantes
Mas Pôr-Ardor faz lembrar
balas voadoras de wasabi
sobre tantos outros inocentes
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
Não quero mais navegar
Às vezes sem esperança
Fito os meus olhos, no fundo
Há tanta gente no mundo
Como fazer diferença?
Calar é tão fácil
Quando a alma
Procura falar
Em pixels navego
É fato, sou foto, 3x4
Com um lado fraco
Meu ego é manco
De mim mesmo eu rio
Desemboco num afogar
Engolindo nenhuma resposta
Por favor, abra a porta!
Deixe-me entrar!
Estou com tanto frio!
Não quero mais navegar!
Fito os meus olhos, no fundo
Há tanta gente no mundo
Como fazer diferença?
Calar é tão fácil
Quando a alma
Procura falar
Em pixels navego
É fato, sou foto, 3x4
Com um lado fraco
Meu ego é manco
De mim mesmo eu rio
Desemboco num afogar
Engolindo nenhuma resposta
Por favor, abra a porta!
Deixe-me entrar!
Estou com tanto frio!
Não quero mais navegar!
domingo, 20 de fevereiro de 2011
Tapada
Vivia na base do tapa
um após o outro
Até que um dia
a asfixia tapou sua voz
e o silêncio virou capa
um após o outro
Até que um dia
a asfixia tapou sua voz
e o silêncio virou capa
sábado, 12 de fevereiro de 2011
Bombado
Estoura a bomba
Pedaços, latidos, luz
Alá salvo e são
Vassoura, voa a pomba
Doido varrido, urubus
Lá no alvo farejam
Por que a Terra gira?
A Terra girando
Espeto de carne molhada
sobre olhos de brasas
Parada
Meio crua
Meio queimada
Um não à vida
O Sol e suas línguas
lambendo alvoradas
Flashes em frames
Fótons instantâneos
Revelações de um paparazzo
O Hélio que nos persegue
todos os dias de todas as vidas
Holofote incansável
o astro rei sabe que a noite é só nossa
e que a luz da Lua zela os nossos sonhos
para poupar-nos dos pesadelos
das noites mais sombrias dos medos
E que sem ele
em cada poro de pele
de cada semblante
não seríamos nada,
nem astro, nem asno,
nem fala! A vida é chocante!
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
Fim de tarde
Quando os ponteiros sobrevoam a tarde e o sol se despede do mar, um céu rosado vem cobrir os meus olhos. Ouço um sino bater cada vez mais distante, enquanto meu corpo fica em silêncio. Sinto-me um rei sem trono; não há como guerrear de consciência desarmada. No linguajar do sono só me resta bocejar e esperar pela madrugada...
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Num beijo sem fim
Apaga o meu fogo
Num beijo sem fim
Morrerei de amor
Em teus braços
Sem ar, sem mim
Sem nada a dizer...
No espaço do rogo
Ouvirás um clarim
Partirei sem dor
Os últimos passos
Pois amar é assim
O que posso fazer?
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