sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Velho biruta

"Este vento no pé do ouvido
Me enche o saco!
Me deixa louco!"

(Resmungou um velho Biruta
balançando a cabeça
em tom de reprovação)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Casal binário










Nosso diálogo
É feito sopa
De letrinhas
Quente, morna ou fria

Quando desce bem
Eu + você
Somos um casal 10

Mas quando decimal
Eu + você
Somos apenas 2...

domingo, 22 de agosto de 2010

Delito













Tomei a liberdade pra dizer:
-Estou livre!

Mas ela me embriagou de tal forma
Que acordei com a cabeça estourando
E vomitei tantas palavras a esmo
Que prometi nunca mais bebê-la!

Ressaca moral, saca?

A vida me concedeu um indulto,
Mas ser perdoado temporariamente
É o mesmo que viver carregando
Uma bola de ferro cheia de culpa
Cravada no meio do peito!

E ter a alma sob cárcere privado
Acorrentada, encolhida e trêmula
Num canto frio e escuro do silêncio...

sábado, 21 de agosto de 2010

Surrealizar-se












Banhou-se no limo do verde musgo

Arrepiou-se cheirando rosa-choque
dissolvendo o azul anis do céu da boca

Lambendo o mel dos olhos amendoados
ouviu sopros solfejados à beira-mar

E pra regar um pé de ipê amarelo no peito
aterrou na própria alma em avaria
um pára-raios para um Sol enfurecido do meio-dia

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Folhas secas










O tempo varreu
Folhas secas
Do passado

O chão do peito
Já respira
Aliviado

E o que era
Pra ser inverno
Eterno

Hibernando
Em sono
Profundo

Agora aflora
Imponente
E fecundo

Arvorando
Reluzente
Em primavera...

domingo, 15 de agosto de 2010

Sinestesia, sabor poesia











Olhos e ouvidos
Portais desprotegidos
Quando invadidos
Por versos ousados

De palavras coloridas
Que irradiam na aura
E nas veias abstratas
São promessas de cura

Decretam na alma
A lei do silêncio
O toque de recolher
A reflexão em lágrima

E na boca do âmago
Uma doce sinestesia
De sabores e dissabores
Salivados de poesia...

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Estrelismo









Saboreou o sucesso fugaz, tão desejado, e ganhou o mundo. Acumulou riqueza, prestígio e glamour em tapetes vermelhos. Mas brilhou tanto que cegou as retinas dos pobres mortais. E de tanto estrelismo, como estrela (de)cadente, despencou num abismo perdendo a grandeza de um astro que brilha, para virar uma anã branca. E embriagada de tristeza, orbitando vã, perdida em seu próprio espaço, agora sucumbe sem constelação, afogando-se desiludida num mar de consternação...

Lua tímida













Quando era criança, eu corria alegre pela praça olhando as árvores que tentavam cobrir o céu. Vivia procurando encontrar o Sol, teimoso se escondendo atrás das nuvens densas. Nos dias nublados eu ficava triste, achando que ele nem queria me ver. Desconfiava também que discutia com a Lua, pois muitas vezes não andavam juntos.

Eu não entendia porquê ela brilhava menos. Provavelmente era por isso que ela não me aquecia, principalmente à noite. Então pensei num dia: - A Lua deve ser tímida! Pois nem sempre aparece. Então tive uma grande ideia! Quase na hora de ir pra cama, fingi que estava dormindo. Mamãe me carregou até o quarto, cobriu-me, beijou minha testa e apagou a luz, mas minutos depois... Lá estava eu andando nas pontas dos pés (Cobertos com pantufas fofas) e lentamente erguia a janela.

Já sentado no batente, sentindo um frio na barriga (com o pijama gelado) e ignorando uma conversa de grilos, dialoguei empolgado com a Lua, horas a fio. Nesse dia, ela estava sorridente! Mas antes que o Sol despertasse imponente, despedi-me dela, fechei a janela, corri pra cama e fingi dormir novamente...

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Uma essência no ar












Andava perfumada
Apesar de sua pele
Lavandar quando amava

Seu hálito e cabelos
Não eram diferentes.
Transpiravam os falos

Arbusto imponente
Nos campos floridos
Despia-se verdejante

Moça bela e prendada
Sabia que suas sementes
Germinariam na alvorada

Partira em fragmentos
Para ser toda aspirada
E curar os meus lamentos

----------------------------------------------

- Enfermeira, pode acender pra mim?
- Claro senhor!
- Obrigado moça. (semblante sereno)
- Prontinho senhor, deixarei na janela! (sorridente)

(um aroma de incenso no ar)

- Hum... que delícia, cheiro de flor. (deduziu ela)
- É minha querida esposa. (olhos fechados)
- Ah sim... Senhor, agora descanse tá? Volto lá pelas 15:00.

(ela não iria acreditar mesmo)

sábado, 7 de agosto de 2010

Idade x Imparcialidade













Depois de certa idade
recusamos algumas críticas
E usando de malícia e retóricas
resultamos em imparcialidade

Ficamos numa condição
de evitar mais um desgaste
esquivando de algum desastre
que possa afetar o coração

Quando envergamos anos a fio
(Muitas vezes pro lado errado)
tendemos a ficar de lado
achando que somos um sábio

Não pensamos em mudança
pois achamos que tudo fizemos
e no fim, nós esquecemos
dos nossos sonhos de criança

Mas quando os sonhos perdem o roteiro
a grama recobre a trilha da vida
E perdendo o caminho de volta
a alma se desfaz por inteiro...

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Meu canto













Meu canto
É um abrigo

De solfejos, palavras
Desejos, anseios
Reflexões e verdades
Bem ditas!

É um paiol
Que explode feito
Bomba-relógio
No peito

Quando a alma,
Pura pólvora
Inflama e evapora
Pela boca, em música

Então eu canto
A particulada magia-neon
Que desbrava ouvidos
E se aloja noutras almas

tic... tic... tic...

O tempo
Volta a falar
Gaguejando

E teimoso
Continua
Contando
Comigo

Refém
De atentados
Do bem

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Obrigado pai













Pai, pára e pensa
Vais descobrir
Que o amor compensa

Se estou aqui de pé
É porque me ensinaste
A caminhar com fé

A cada tropeço
Teu sorriso dizia:
-De novo filho, por ti eu torço!

É assim até hoje
Sempre me dando força
Mesmo sem que me beije

Velas meus passos
Com medo de me perder
Ou desatar nossos laços

Foram pro meu bem, eu sei
Aqueles teus sermões
E puxões de orelha que levei

Já esqueci das broncas
E não guardo rancor no peito
Assim pude desviar das pedras

Mas nunca vou esquecer
Dos teus fortes abraços
Ninho onde busquei me aquecer

Ouça... o silêncio é bobagem
Quero dizer o que sinto
Antes do fim da viagem

Obrigado pai querido!
Teu legado será ter me ensinado
O caminho de amar e de ser amado

Mesmo não tendo tudo aprendido...

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Salmo 20 Ouvir

"O silêncio é meu pastor
e muito me falará..."

Velho, maduro e feliz












Pronto, já foi o tempo em que eu me calava
Para não ferir a quem me amava.

Agora preciso dizer o que sinto
Porque minha alma é um grande recinto,
Com um coração costurado, no meio da sala.

Ele anda palpitando com dificuldade
E após idas e vindas, a nostalgia ficou,
Além dos remendos da idade.

No espelho, velho que sou,
Por dentro ainda belo, sem pressa, eu vou
Regar mais uma flor e agradecer pela maturidade,
De quem ainda sonha e revive feliz tudo o que já amou.

Entre dois mundos










Fios desbotados
Folhas secas ao vento
Estiagem do tempo
no tempo chuvoso

Na pele, estradas rachadas,
caminhos longos, profundos

Árvore de cerne macio
agarrada em solo rochoso
vou findando com as frutas
frente aos galhos moribundos

Mas serei da Terra e do céu
Entre dois mundos

Dínamo oculto

"Uma força pedala, o mundo gira e acende..."

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Inspiração bardiúnica













Choviam palavras no lago da alma. A água ficou morna, ondeando multicolor aos som dos pingos. Patos, cobras, peixes e corais banhavam-se numa pintura surreal. Eis que estranhamente, uma sereia emergiu e saiu correndo assustada! Mas por que cobrir os seios?

Já acostumadas, as vitórias-régias brindavam-se como taças, e bêbadas viam o mundo girar. -Deszzze maizuma! (Dizia uma delas). Enquanto as nuvens gargalhavam trovões ao servirem a trupe. Mas noutro dia... a ressaca de um poeta.

Orgasmo

 











Orgasmo
É sarcasmo
Do sexo

Calado
Pulsa
Espasmo

Gargalha
Nos plexos
Do corpo
Pasmado

Transmuta
Oxigênio
Em ar do cosmo

Dissolve
Suspiros
Na carne
Exposta

Um
Doce
Efêmero
Insaciável!

A folha e a lagarta











Venha lagarta!
Beije-me com os teus pés macios
Devore-me aos poucos...

Teu casulo, meu abrigo
Aonde fores voo contigo

Serei as cores das tuas asas
Teu bico nas flores nuas
E nas alvoradas

A confidente dos teus amores

Sozinho no inverno









Com um terno de linho
num inverno de vinho
eu hiberno no ninho

Me alinho em meu leito
e sozinho lamento
o espinho no peito

Deito e me calo
Espreito o estalo
do graveto lançado
na lareira da sala

Meus olhos espelham
a fogueira, as fagulhas
que clareiam o sofá,
o raque, o vaso com flores

Uma silhueta sinuosa
pintada na parede
dança e hipnotiza
Vagarosa se despede

Sem tê-la em meus braços
os olhos vão fechando...
Buscando teu doce beijo
no vilarejo dos meus sonhos

Longe dos ventos













Uma pena só, que flutua. Alma penada escondida no lado escuro da lua, empenada pela vida. Longe dos ventos me abrigo no silêncio, arrastando um pano puído que lambe o asfalto frio. Meus cabelos longos aquecem minha nuca e o corpo inteiro fita a fogueira que dança.

Este é o único abraço caloroso do dia e não sei definir mais o que é água morna. Sou uma lagarta tímida e fraca, sem comida farta. Longe dos ventos durmo quieto no casulo do tempo. Esperando no leito as novas asas se abrirem, pra me alçar deste abismo. Antes que o fim seja decreto...

Pra que te quero Íris?










Há beleza na loucura
e a brancura dos meus olhos
é um quadro sem moldura
com um céu de raios vermelhos

Sem a certeza de uma cura
não me reflito nos espelhos
mas carrego bruma obscura
com todos os meus medos

Pra que te quero Íris?
És redemoinho do mar 
sugando cores do mal
de realidades vis!

Venha Sol do meio-dia
Vou concretar meus ouvidos
Queimar minhas retinas
e só viver de devaneios!

E se tudo fosse grudado?










Às vezes olho a esmo
para entender o vazio
que agora me preenche
e não há mais espaço

A pressão é tamanha
que sinto que o ar
se liquefaz nos olhos
e os ouvidos apitam

Sim, sou um botijão humano
e a cabeça uma panela!

Então fixo o olhar
No vão da pele mosaico
No vão dos dedos
No vão das portas
No vão das janelas
No vão dos muros
No vão dos murmúrios
No vão do ar
Nos vãos...
Não vão responder?

Depois de um tempo
percebo que a visão turva
me poupa nas buscas em vão
pois preciso olhar para dentro

Mas e se tudo fosse grudado?

Nada seria em vão!
Não haveria vão!
Nem o oco do coração!

Mensagem de um poeta que partiu













Deixo o corpo para alimentar a terra. A mão em repouso conforta palavras. Em todo fim há um fim, e sei que muitas árvores, frutas, plantas e flores brotarão pelo jardim. As borboletas virão bailar sobre novas cores e os pássaros cantarão alegres sob o orvalho. Seguirei viagem ao destino dos olhos, para pintar arcos nas íris e soprar encantos nos ouvidos, reverberar nas almas. A minha, já decretada, despertará num novo dia, pois na manhã ensolarada, serei legado de poesia...

Dna Augusta




Dna Augusta é uma madrasta muito acolhedora e com um coração enorme, sempre vigiando suas filhas. Suas garotas são belas e muito divertidas, trabalhadeiras e pontuais, mesmo sob à luz da lua. Algumas já estão na universidade e são muito espertas, um grande orgulho para todos.
  

Sempre desfilam no chão gélido da noite, ao som dos saltos altos, colares, pulseiras e brincos, seus anéis também parecem desfilar. De vez em quando, estrelam as bordas das sarjetas, com o brilho sedutor de um gloss perdido ou com o reflexo de um espelhinho trincado ao meio, rachado pela face híbrida da vida...

Castelo vazio


Um pedaço de tijolo úmido, uma calçada de cimento e um castelo laranja aos poucos se erguia, aos passos dos dias. Um cheiro de terra molhada no ar. Nas fendas do chão quebradiço, mudas de plantas e um mato rasteiro (Escondendo um obscuro calabouço) formavam um belo canteiro, com pedras que havia em seu bolso.

Ao lado, um banco rústico de praça, branco e descascado, servindo de sombra às flores amarelas, algumas desbotadas pelos respingos de uma pintura bem antiga, descoloridas como sua pele enrugada.  Tinha como companhia as árvores com seus galhos feito mãos, que seguravam os pássaros coloridos, que se limpavam, cantavam e pareciam observar aquele homem sisudo e de boca seca e rachada.

- Eles gostam da minha presença.
- Às vezes me pego cantando como eles   (sorrindo)
- Mas voo apenas com os olhos fechados. (suspirando)
- Tomamos café juntos, todos os dias    
- E dou-lhes migalhas de pão.
- Aliás, que horas são? (testa franzida)
- Ah, esqueci a oração! ("chupando bala")

Bem, isso não importava tanto.

- Sabe, o vento vive pedindo passagem (exaltado)
- Resmunga mais que eu!
- E ainda teima em derrubar o meu castelo.
- Hã, mas não vai ser fácil não!
- Pois ele continua firme!
- Apesar de estar vazio. (sorrindo)

Então perguntei - Por que vazio?
- Os hóspedes ainda não chegaram! (preocupado)

A mão trêmula continuava desenhando... Era quase noite. Nenhuma visita. Não havia sorte. Não havia quase vida. Só um aroma de morte.

- E não desisto de construir!            (Limpando a testa)
- Meu castelo ainda vai tocar o céu! (entusiasmado)

De repente uma pausa na fala, um silêncio momentâneo, rompido pelos traços grossos. Um pingo, e uma das janelas fechadas do castelo borrou...

- Vai chover, eu sabia! (Disfarçando com um sorriso forçado)
- Desculpe, agora vou dormir, amanhã eu continuo!

Levantou-se lentamente, deu as costas e se recolheu apressado...
Aquele senhor sabia que no fundo era como aquele castelo laranja, mas se negava a aceitar.

Hecatombe

A Terra foi chacoalhada várias vezes. Como geleia, a atmosfera foi rompida pelos oceanos e mares, que perdiam suas belas cores azul e verde ao invadirem o silêncio do espaço. As nuvens se desfaziam como algodão-doce na boca de uma criança. Novos arco-íris surgiram repentinamente.

Até as montanhas mais altas e arranha-céus foram banhados e engolidos, tsunami global. Quebradas, algumas estalactites saíram das grutas assustadas e irritadas com tanta luz. Igrejas, monumentos, palácios, estátuas, pontes, mansões, favelas, aviões, governantes, ditadores, religiosos, ateus, ricos, pobres, teses e tudo criado pelo homem despencavam à força, bailando soltos no ar, com as águas e com destroços, em picossegundos.

Os mortos que descansavam acordaram despenteados e revisitaram a superfície, sentindo novamente o cheiro das flores e do resto do verde, mesclados aos gases dos escapamentos, das fábricas e das numerosas manadas. Os ossos sentiam-se leves.

Homens-ácaros levados pelas águas sucumbiam sem oxigênio, alguns afogados com os seus egos, espatifados contra os muros ou presos sob escombros. Outros tantos desacordados pelos trancos explodiam em poucos segundos após perfurarem o espaço, com o sangue em ebulição e músculos dobrados de tamanho, os olhos empedrados saltavam exclamados.

Algumas almas foram sugadas por um feixe luminoso branco que desembocava num buraco negro; as demais se misturavam com o resto da sujeira acumulada, e aos poucos foram sendo injetadas no núcleo da Terra, para serem cremadas e esquecidas, até que os vulcões, como um furúnculo doente, passem mal e as expulsem novamente.

Numa quase-seca abrupta, sob o calor de um Sol escaldante, algumas vidas marinhas se bronzeavam, debatendo-se como os peixes, boquiabertos e olhos arregalados, pareciam aterrorizados. Além destes, outros animais revestidos com bolhas-neon misteriosas e grande parte da flora e fauna pareciam ter sido poupados, pois nada sofreram.

A Lua minguante solitária com um sorriso branco impecável observava atônita aquela fúria (Porém nada desmedida) e preferiu não comentar, afinal, ela também vivia se renovando. É uma nova fase... pensou ela. As estrelas piscavam como se aprovassem tal atitude. Algum tempo depois, a sacudida cessou e um sopro resvalou; vendaval em órbita...

Eis que inesperadamente, uma tempestade cristalina, morna, salgada e doce como soro caiu sobre a Terra seminua e então recobriu grande parte dos antigos oceanos, mares e rios, em apenas um dia, sem descanso. Pela manhã, um grande arco-íris se formou no céu. As bolhas-neon estouraram e tudo parecia recomeçar. Os pássaros voltaram a voar e a cantar sob o mesmo holofote amarelo, um novo espetáculo... Mas nenhuma voz humana foi ouvida.

Se a poesia fosse a bola da vez











Se a poesia fosse
A bola da vez,
Certamente seria colorida
E rolaria sobre um campo
De flores,
De árvores,
De colinas,
De pássaros...

Cairia nas veias
De águas doces e salgadas.
Seria lançada por golfinhos,
Nadaria sobre lagos
E se esconderia nas grutas.

Driblaria selvagens
E derrubaria frutas,
De pé em pé,
Lance de alce.

As copas beberiam a chuva,
Então, espelhos
Da luz do Sol,
Da brancura da Lua,
Das nuvens, estrelas 
E de um mar suspenso
Azul celeste.

Uma trave com rede
Para apanhar borboletas
E permitir tocar suas asas.
Vestígios de pólen,
Meia-vida no ar,
Sem penalidades.

Entre tantas naturezas
Sentiria odores e sabores,
As dores da tristeza       (Murcharia)
E a leveza dos amores.  (Encheria)

Fitaria as cores das auras
E das almas, a verdade saberia,
Por meio de ocultos
E sensíveis toques.

Na arquibancada Arco-íris,
Uma cadeira VIP apenas,
De onde trovejaria o grito
De um homem grande e barbudo

Torcendo pela vida...

Amarelo, azul e cinza













A areia escoava dos meus dedos e minhas mãos em forma de ampulheta deixaram os grãos se misturarem com o chão da praia. Assim partiste sem dizer se voltarias um dia.

A sereia levou os seus medos para o fundo do mar azulado, e faceira lavou as lembranças sobre os corais vermelhos, desbotando as cores do passado. Não chove mais em minha praia. Nem sinto mais o cheiro de terra molhada. Por onde andas menina? Caminhei em tantas orlas, buscando vestígios no reflexo das ondas, molhando meus pés... E hoje escrevo com eles bem aqui nesta imensidão, "E.T.A" gigantes!

Se estiveres noutro mundo, talvez possas enxergar. Mas vem logo, antes que a maré suba demais, cobrindo minha esperança. Se eu partir mais cedo, não te preocupes. Fragmentado em várias garrafas, hei de encontrar-te em outras areias. Amarelo, azul e cinza...

Passos largos em vão

Uma estrela que brilha demais pode cegar o homem. Assim como, com a chama da vela, a cera e o pavio se consomem. Passos mágicos na Terra se vão... No espaço a Lua com formas gélidas de pé humano em estado de solidão. Os homens não valorizam a água que bebem. Tratam o planeta com desdém. Ignoram sua real condição. Uma cadência febril de imagem, mente e coração. A arte imita a vida e vice-versa, mas quando a vida estará em Marte? Se tivermos sorte, voltaremos a esta conversa...

Paixão e Ódio

Um auspicioso namoro
nutrido por paixão e ódio
com afável crueldade
sutil oximoro

Entorpeceu-me feito ópio
Das lágrimas o gosto de soro
Após amargas ressacas fiquei sóbrio
Apesar das chagas calei o choro

Mas, ébrio tal qual touro
sob o calor e o frio do solstício
o amor do ócio desperta sagaz
e não mais morro

Vida abreviada









Vá lá com a cunha
Lapide a pedra calada
Com talhos se tornará lápide
na vala coberta de terra

Em baixo-relevo, nome completo
e com números pequenos
o início e o fim datados
ao lado de uma cruz
para serem crucificados

Da lasca, a faísca revela o sereno
que escorre nos galhos
que escoram o céu negro
que chora gotas ácidas
que corroem por dentro
dissolvendo no tempo

Jamais esqueças do D.C.
pois Diante do Céu
até um rei sucumbe
e perante a lei "Sem o véu"
se desnuda a face errante

A vida abreviada
com alfanuméricos

Enquanto o tempo não esquece













Deus é o universo do avesso
Verso denso e travesso
Espesso véu que desconheço

Da face guardada
Do alto que desço
Do fim ao começo
Do velho ao berço
Da alma criada
sou mais que mereço

É a boca que não fala
do silêncio que se cala
mas que ouve o sopro
invadindo o vazio do sereno
da madrugada

E que sente o pulsar
da vida que se aquece
enquanto o tempo não esquece

Vou comprar cigarro e não volto









Costurei meus lábios
Agora com retidão
Não digo mais
Nem palavra
Nem palavrinha
Nem palavrão

Às vezes é melhor mesmo ficar calado
Quando fingem estar do seu lado
Remoendo o passado e amando em minguado

Não cobrarei mais o que já foi cobrado
Fique com o troco!

Vou comprar cigarro
Eu e meu fumo
Partiremos sem rumo,
Num belo trem!

Numa só jornada
Sem volta, sem revolta
Sentir o cheiro da mata
Fitar novas flores
Tragar novos sabores...

Não sou o que eu era ontem
Não sou melhor que ninguém
Mas hoje sou maior, pro que me convém.

Cadafalso pelóleo










Quem irá
Ser contra
O Iraque
Agora? Al Gore?

Será que
A ira que
Disputa terras
Tem dois lados?

Extrai o
Preto do
Tutano do
Osso
Fosse
Isto
Posto

Se não
Fosse
Gente de
Posse de
Foice
Transparente

Um passo
Cada falso
Num cadafalso,
Mas só
d
e
s
p
e
n
c
a

O bigode
Preto
Oleoso

Saldam uns cem
Morto(s)!

Mas e o
Bucho do
Bush?

Intacto!
Como seu
Cabelo...

Eu x Família

Do peito veio o canto mal ouvido
Por quem se move por sobrevivência
E procura demonstrar sapiência
Mas que se escora no passado

Não ligo mais em tomada sem energia
Nem fico mais em estado de choque
Mostro o que vem da alma em avaria
Mesmo que este não seja o enfoque

Minha entonação se tornou mais forte
E as palavras mais que cruzadas
Perfuraram as bocas caladas
Deixando um profundo corte

Cansei de me fazer de bonzinho
Não me reconhecem como se deveria
E nem saio mais de fininho
Porque meu coração não permitiria

Mesmo assim deixo que me neguem
Faço de conta que nem ouço
Pago a conta do almoço
Mas não deixo que me violem...

No mesmo rumo













Se não olhamos pro mesmo horizonte
E remamos de frente pro outro,
O barco não vai adiante
E o mar fica revolto.

Se não olhamos no fundo dos olhos
Não sabemos se é relevante
Guardar tantos segredos,
Mesmo sendo amantes.

Como rios nos encontramos
E não há porque desaguar
Num mangue de incertezas.
Há tanto mar a desbravar.

As diferenças pesam demais.
Vamos despejá-las pra fora
Antes que o barco afunde,
Com todos os nossos sonhos.

Vamos ancorar o coração
Nas profundezas da alma,
Sentir o sopro na vela
Que alimenta a nossa chama.

A única bússola que nos guia...

Ansiedade x Sobriedade










Como administrar o meu tempo
Se ele acelera com o meu pensamento,
Que anda muito teimoso,
Querendo prever o futuro?

Quando não, procura ter cautela
Com o que eventualmente ocorrerá,
Antecipando a colheita
Pra já ceifar o que ressecou.

Pra onde foram os frutos?

Meu lobo frontal desmiolou de vez.
Está preparado pra uma guerra,
Sabe lá quando, como e se ela virá!

Noutro dia a vida sorri como criança,
Me refrescando mais uma vez numa boa bricandeira!
Hã, armas bélicas contra armas d'água...

Onde está aquele calmante
Pra me embriagar de sono
E me forçar a fazer as coisas pela metade?
Prostração, por prostração...

Assim diminuo o ritmo
Dessa ansiedade contra o tempo,
De uma sobriedade diluída pelo vento.

Altos e baixos










Entre altos e baixos
Vou oscilando quieto,
Viagiado por day traders da vida.

O mercado não está para peixe
E não estou à venda.
Tire de mim essa venda,
Me solte logo, me deixe!

Quero enxergar novamente...

Páre de me especular tanto.
Hoje valho mais que o dólar
E deixei de lado meu pranto,
Não tenho motivo pra chorar!

Estou em alta agora,
Não jogue a lata fora!
Ainda estou lambendo a tampa...

Opa, a bolsa perdeu o zíper!
O que faço agora? Start ou stop?
Ah não, de novo? Crash geral!

Cai novamente...

Bendita saudade













Sentí-la como éter na pele
É ter um segundo tão breve
Do teu frescor tão ardente

Evaporando de mim
Teu cheiro jaz enfim
E teu calor se faz ausente

Sem ti, lá no fundo, me fere.
Iracundo mais nada me serve
E outro sabor me ressente

Perdendo o caminho de volta
Me abrigo numa colina
Mas continuo errante

Sem ti, nem sentido faz
Nem tenho tido paz
Em minha alma carente

E sozinho anda agitado
Esse meu coração flagelado.
Bendita saudade cortante!

Mistura x Solução













Xeroque os meus medos
E "scanneie" minha alma

Verás o preto-e-branco
Invadindo outras cores

Arco-íris na tempestade
Suavizando relâmpagos

A alma imersa no medo
O medo contido na alma

De mim sei que sou Sheik
Mas viu que pareço Milk Shake?

Sou borra enigmática
Numa xícara de café

Buscando uma solução
Dentro desta mistura

Sou um cara de fé!

Sob a chuva


"... foi quando parei molhada, olhei para trás e vi a chuva me seguindo. Sob o guarda-chuva e o barulho da chuva ouvindo, em silêncio deixei as lágrimas seguirem o ritmo das gotas. Ninguém desconfiou do pranto, havia tanta água por ali.

Em meio à visão turva, te vi partindo, me vi também, por dentro. Acenei como uma criança perdida ao relento. Fiquei na esperança de revê-lo o quanto antes, relutei em sair dali. Os olhos fecharam lentamente em busca do teu cheiro...

O tempo congelou quando a mente voava nas lembranças, mas a chuva continuava e no rosto o vento soprava. Contentei-me apenas com o gosto do teu beijo e a dor da saudade.

A partir de então vivo dispersa e com receio. Pensar em ti é um perigo até quando dirijo pelas ruas, por segundos fico cega, imaginando que as curvas são tuas. Já não sei mais onde me abrigo, pois encontrei outras moradas nessas lembranças que me apego.

Não o vejo há tantos dias. Já não tenho mais sossego. Sozinha nas noites frias, com o silêncio ainda brigo. Quero muito o fim das horas, pra revê-lo logo, com o teu jeito meigo e divertido, alimentar-me com o teu sorriso, e juntos contarmos novas histórias e estrelas... Não sei mais ficar comigo! Te amo mais do que tudo! De tua esposa eterna!"


Após enviar esta carta esperei ansiosa por uma resposta, que ainda não veio. Torço para que o correio tenha atrasado! Sim, só pode ter atrasado!

Depois de alguns dias bateram em minha porta. Eram dois oficiais com papéis nas mãos. Tiraram seus quepes, baixando lentamente a guarda...

Então lembrei daquele dia de chuva e tornei a congelar, os olhos fecharam novamente em busca do cheiro dele... em vão! Deixei as lágrimas seguirem o ritmo, do silêncio... Desmaiei, para em seguida continuar morrendo todos os outros dias, que ainda me restam.

Jogando com o amor


Ouvi teus passos lá fora. Corri e te vi miniatura. Toques sem disparos, a campainha falhou, meu coração pulou. Prendi meus respiros... Perguntaste, sem resposta. Me chamaste, nome engolido. O brilho dos olhos espreitou o silêncio...

Bateste palmas, mas não abri a porta. Fingi que não estava, nem dentro de casa, nem dentro de mim. Soltei o ar comprimido, o olho-mágico embaçou e de repente você sumiu... Grande truque do amor!

Quando resolvi abrir você não estava mais. Foste embora levando o meu sorriso. Além de mim a porta ainda chora. Mas já consertei a campainha, tapei o olho mágico, pois te quero aqui, inteirinha. Não faço mais isso conosco...

Ego x Ser algo

Expulse do peito o seu ego
Quando ele parecer dominar-lhe

Falso lirismo sobre as flores
Não encanta um cego

Pincéis sujos não valorizam a arte
Tenha piedade, purifique o seu âmago

Seu baluarte não é tão forte!
Seja um malogrado e deixará de ser algo...

Nocaute mais uma vez













Tudo bem, sem reclame
Vamos ao segundo round
Me jogue no tatame
Golpeie-me de longe,
No coração, me ame

Deixe-me mais tonto ainda
Com esta voz no pé do ouvido
Tu és menina levada

Fez-me um homem perdido
De inocente se tornou "malvada"
E eu agora? O incompreendido!

Nenhum gongo me salva mais
Caído assim aos teus lindos pés!
Nocaute mais uma vez...

Então descanso













Quem me chama é a vela
Que revela o macio da trama
Às mãos que degustam a seda
Greda meu corpo reclama

A razão eclode
Queixo-me
Desculpo-me

Deixo-me
Esculpo-me
A tensão erode

O livro boceja bem manso
Esparrama letras pela cama
Viro, cedo pro descanso
Logo cedo o galo brama

E a história continua...

Descobertas









Neste desejo inócuo
Vou flutuando com o vento.
Folha vagando pelo vácuo
Do espaço Sentimento.

Abro portas sem trancas.
Marco rotas com os pés.
Subindo longas escadas.
Nadando com as marés.

Desvendo novos ares.
Respirando eu aproveito,
Pois descubro novos lares
Que habitam no meu peito.

Desovando velhas regras
Desbravo um mundo novo
E neste caminho de pedras
Lapidando eu me renovo.

Cada passo, uma surpresa,
A verdade vem à tona
E faço graça com destreza
Neste palco sem lona.

O tempo me abraça
Na cadência do destino,
Que do baixo me alça
Me apresentando ao divino.

Errante vou ouvindo
O coração que não me cega
E num mirante esperançando
Minha alma que se alegra...

Fotografias









Nos porta-retratos
Vidas como estátuas,
Mortas com os fatos,
Dissolvidos pelas horas.

Num novo céu amarelado
Novas nuvens surgiram
Borrando o azul do passado.
As cores, longe do que eram.

Digitais sobrepoem rostos
Tateados tanto pela saudade
Que enrugadas ficaram as fotos
Enganando até a tenra idade.

A moda que vestia a época
Nos tons e cortes de cabelo
Nos estilos de roupa
E do que seria o mais belo.

Momentos bons e fugazes
Registrados em um segundo
Selando todas as pazes
Deixando as guerras de lado.

O brilho das fotografias
Não reflete mais como antes,
Mas me remete a tantas histórias,
De amigos, romances, parentes.

Ricas culturas, flora e fauna
Agora desbotam com as almas.
Refração de uma luz ideal,
Na cadência do tempo perdido,
Na extinção de um mundo real...

Caipira moderno, bêbado e filósofo

Medito
Com pretexto
De acarmá.
Assim não me perco mais,
Quando fartá luz, "hip!".

Me edito
Como texto
Pra me sarvá.
Assim não me perco mais,
Quando fartá luz, "hip!".

Minha emoção é volátil,
Meu coração é retrátil,
Fico são sem Rivotril!

Que fique bem claro cumpade, "hip!":

Control+C não tenho nada, só te copio, uai!
Control+V só posso te colar, nada mais.
Control+X está o mar-humorado ao tirar a foto.

BACKSPACE não é "espaço pra maconha", só regride.
INSERT momento o HOME erra. Errar é humano, né não?.

E sabe cumé! Adoro ESC ver no computador...
Então vai uma dica sô, "hip!":

Pra palavras com mais músculo, CAPSLOCK, ENTER deu? "hip!"

Buscando respostas


Tento conversar com ele no abrigo quente do peito, mas só ouço alguns ecos, de pensamentos reflexivos. Eu, sempre o questiono em frente a um espelho. Coberto por um saco bolha ele parece granulado.

Procuro uma palavra que faça sentido a ele, que permita ajudar em sua escolha e qual rumo seguir, sem medo. Já eu me sinto fragmentado, tentando me recompor, com algumas peças gastas. Mas ele é um quebra-cabeça.

Porque este Eu não me questiona então! Em vez de ficar calado? Mas eu quero as respostas! Será que eu é que terei de responder?

A concha e o caracol











Vem meu bem
Pra debaixo do lençol

Vamos dormir bem colados
Eu concha, você caracol

Despertar pela manhã
Vendo o mar beijando o Sol

No calor dos nossos sonhos
Sentir que somos um só

Abrigo-lhe em minha casa
Você lá e eu lá-bemol

Na musicalidade dos corpos
Na simplicidade do amor...

Falando em mulher













Ela se divide em duas ou mais:
Quando engravida
Quando se doa
Quando se enlouquece, com tarefas demais.

É filha, namorada, esposa, mãe, avó, dona-do-lar e conselheira.
É forte, trabalhadeira, faladeira, "frágil", e vive na choradeira.
Pois seu coração é grande e sensível, mesmo sendo guerreira.

Ela só quer abraços
Pra aliviar seus cansaços
E preservar seus laços

Quer carinho pra ficar calma.
Beijos pra acalentar a alma.
Digo, quando não está trocando a fralda.

Só ela germina a semente da vida.
Só ela é capaz de lhe acolher como um filho.
Só ela é capaz de nos confundir e de se confundir.

Um ser misterioso que precisamos desvendar a cada dia
E a cada descoberta, uma bela surpresa.

Suas feminilidade e vaidade conquistam fácil.
Seus cheiro e sensualidade entorpecem e viciam
E são capazes de nos anestesiar
Pra logo depois nos fazer dormir como crianças.

É musa de boas inspirações poéticas.
Ajuda a compor os melhores versos,
Das grandes poesias de amor, de prazer e de dor.

Seremos eternos "escravos", mas felizes.
Estamos em suas mãos, sempre foi assim.

Dizem: "-Atrás de um grande homem sempre há uma grande mulher."
Sim é um dito popular, um clichê, mas quer saber?

Não vou discordar...

Criança, seja bem-vida













Da frutífera semente
Então surge a vida afinal
O broto germina no ventre
E o singular virando plural

A seiva correndo valente
Vem lá do coração boreal
E na gruta viril e luzente
Não se conhece o bem nem o mal

O futuro a aguarda ansioso
E a esperança nunca finda
Mesmo num mundo fragoso

Criança seja bem-vinda!
Trilhe um caminho honroso
E faça com amor tudo na vida.

No vermelho, mas não de luto










Saí por enquanto da corrida dos ratos.
Os felinos queriam me ver morto!
Agora é a minha vez de salivar
Em todos os pratos da casa.
Nada de ratoeiras da morte.
Pedidos só à la carte!

O cartão de ponto foi pro lixo
Se encontrar com seus parentes;
Restos de queijos perfurados,
Mal-cheirosos e envelhecidos,
Sucumbindo à céu aberto.

Fiquei aqui em outro nicho,
Longe de capitalistas devoradores
De dinheiro e cobiça, com as almas
Encardidas atrás dos sapatos lustrados,
Paletós passados, golas brancas,
E maletas cheias de papéis inúteis,
Para impressionar os chefes.

Do currículo fiz um aviãozinho,
Como o das aulas remotas da escola.
E arremessei pra bem longe!
Ele partiu num voo sem escalas,
Sem hora pra regressar, ele foge.

Estou no vermelho, mas não de luto!
Se for pra lutar de novo, eu luto!
E se me permite, vou terminar
De saborear este meu charuto.
Au revoir, ou melhor, hasta luego...

Alívio do dia

Sentado e escorado
Deixo a água quente
Banhar minha cabeça

Um calafrio se faz presente
E a alma então suspira
Agradecida e contente

Pensamentos ruins se esvaem
Escorrendo corpo abaixo
Caindo num rio de futilidades

Jamais irei resgatá-los.
Agora só quero alacridades
E da bondade um esmero

A pele mata sua sede
E depois de tanto suor
Despido em banho-maria,
O corpo se entrega em langor
Ufa!, o alívio do dia

Os músculos dormem
Num sono profundo,
Ao som dos pingos...

... e ele se distancia
Cada vez mais... e mais
Os olhos se fecham...

zzzzzzzzzzzzzzzzz...

zzzzzzzzzzzzzzzzz...

zzzzzzzzzzzzzzzzz...

-Sai do chuveiro menino!!! <:o

A nosso bel prazer

Deixe a formiga seguir seu rumo.
Veja o quanto ela trabalha,
Para carregar aquela folha.

Deixe o pássaro fora da gaiola,
Veja como ele voa feliz.
Foi o que ele sempre quis.

Tire o alfinete da borboleta.
Ela ajuda a polinizar as flores,
Senão você não sentirá mais os bons odores.

E o ratinho no mesmo lugar,
Pirado e correndo pra quê?
Ele não fica mais tonto que você!

E o peixinho colorido,
Assustado no aquário
E geralmente solitário?

E a coleira anti-latido?
Não há melhor dica,
Pro teu cão fazer mímica.

E tuas botas de jacaré e de cobra,
Casacos de guaxinim e de onça?
E ainda se faz de boa moça?

E a boiada nas fazendas,
Esperando pelo abate,
Enquanto a vaca chora pelo filhote?

Que bom seria ver uma pessoa:
Sendo esmagada com maldade,
Presa em um cubículo sem liberdade,
Sendo alfinetada pra ser colecionada,
Correndo sem sair do lugar,
Totalmente solitária,
Tomando choque no pescoço,
Sangrando até a morte,
E esperando pelo corte!

Hum, que divertido seria...

Mais uma chance












Ainda temo as ventanias
e as chuvas violentas
destas tardes tão cinzentas.
As últimas lágrimas dos dias...

Tenho ficado quieto e calmo,
esperando por um momento sublime,
uma luz que invada-me e toque-me,
permitindo a nós um novo rumo.

Tenho medo de perder a alegria
que alimenta o meu viver
e que me ajuda a não sofrer
tanto pelas mazelas do dia-a-dia.

Não quero chorar mais
por não encontrar soluções,
mas ainda confio nos corações,
haveis de acender outros castiçais.

Pai! Sei que a Terra chora!
Mas peço mais uma chance!
Peço que ainda nos ame!
Não nos abandone agora!

Salve! Salve!

Salve o dogma da religião!
Salve a fé dos fanáticos!
Joguem óculos e muletas ao chão!
E gritem como lunáticos!

Os profetas e seus "credos"
Agora declamam o sermão
Enquanto os cegos continuam cegos
E os aleijados se apoiam em vão.

Bem afortunado aquele que empana!
Que embriaga o cérebro e ludibria!
Bem aventurado aquele com a grana!

O "divino" comprou alma em sangria
Purificou a mente insana
E alienou a razão que existia.

Saudade da infância

 
Já escalei tantas árvores. Pulei tantos muros. Ralei tanto as mãos, quanto braços e pernas. Na boca o gosto de barro, de infindáveis guerras de terra e o gosto salgado daquele suor inocente.

O cheiro do guaxe, das canetinhas, do giz de cera, da massinha e do mato nas mãos. As marcas de pé no batente das portas. Nos sapatos e meias, os furos. As roupas sempre imundas. Corria que nem louco pelas ruas, atrás das bolas, bolinhas de gude, dos amiguinhos e de namoricos. Meu estilingue potente e suas mamonas.

Tantos "beijo, abraço e aperto de mão", tantos esconde-escondes e pega-pegas, tantas pipas perdidas, tantas viradas de figurinhas, tantas voltas deram os peões, tantos disparos de campainhas, tantas fadas vieram com seus bastões e o sonho sempre continuava, mesmo com todas as broncas.

O lanche da tarde esperava paciente e a chuva anunciava sua chegada. A noite preparava o sono, antes das orações e bênçãos aos pais, ora presentes, ora ausentes. Mais um dia de diversão se consumia e nada mais me preocupava, claro, só o outro dia! Que saudade...

Infância que não se revive mais. Gravou na alma uma forte lembrança, daquele meu tempo de criança. Emoção que não esqueço jamais...

Ciúme em vão

Amordace-me, amarre-me, use estacas!
Arranque do meu peito o coração!
Num ritual que só tu praticas, então!
Jamais me perdi em outras bocas!

Porque duvidas de minha paixão?
Se bebo teu suor e amacio tua carne,
Se parte de mim é a tua outra metade.
Estás fugindo da própria razão!

Não devo resposta alguma.
Teus olhos estão arranhados
Achando que envergo para os lados.
Se quiser saio de ti, ou então suma.

Não posso conter tudo o que vejo,
São tantas borboletas pelo jardim,
Algumas até sobrevoam sobre mim,
Mas tu és a única que desejo.

Se ainda estou aqui é porque te quero!
Jamais permitirei que eu me engane.
No mais, deixe que eu te ame!
É a única coisa que eu espero.

Como se fosse ontem

Lembro como se fosse ontem
Meu rosto tocando teu pescoço
Teu sorriso pedindo um abraço
Querendo que eu fosse o teu bem

Expirei o calor dos pulmões
Para aquecer o teu corpo
Teus pelos acordaram logo
E alinhamos os corações

Com o frio da espinha e do sereno
Minhas mãos buscaram as tuas
Deslizando em curvas macias
Eu escapulia, ora malicioso, ora ingênuo

Quando teu cabelo se soltou
A sensação se inverteu
Quem se arrepiou fui eu
E meu corpo então suou

Entre beijos e carícias
Começamos o namoro
Com amor em cada poro
Nos perdemos em delícias

A cada estação que revivemos
A emoção se perpetua
Estar comigo é estar na tua
E assim nós morreremos...

Eu em você

Eu, brinco na tua orelha
Me enrolo no teu tornozelo
Ouço o pulsar do teu coração
Divergindo do meu compasso

E as horas passam...

Meia-taça cheia, só me engasgo
Quando não, deslizo em montanhas

Renda, porque me rendo nestes
Teus lábios rosados
Quentes e molhados

Hum, como é bom dormir
Num travesseiro fofo
Ou mesmo no teu colo

Abraçar-te no frio
Ou no quente e ficar
Com o teu cheiro

Já colori tanto
Teus pelos e olhos
Tua boca e rosto
Em frente ao espelho

Brincadeira!

Pudera eu ser todos
Os teus acessórios
Roupas e maquiagens

Ao mesmo tempo...

Voando com as gaivotas

O canto das gaivotas ecoa pelo ar.
Em busca dos mais belos encontros
Meu pensamento voa com elas sem parar.
Agarrado vou nas retinas de seus olhos...

Como são lindas as árvores!
O verde vivo das florestas!
O colorido das flores!
Olha só, a corrida das manadas!

O mar azul beijando as praias, sondando ilhas!
Sinto o pulsar destas veias de rios!
Ouço mais pássaros e bramidos das cachoeiras!
Que Sol lindo! Banhando a vida, afagando os corpos!
Abraçando montanhas e alimentando as plantas!

Ôoooba! Como é bom viajar nessa imensidão dos mapas!
Vejo daqui de cima o quanto somos pequenos.
Ainda não somos maiores do que as palavras...

Se não enxergarmos além, nada mais disso tereeeemos!
Não, não, não! Aaaah, não pousem agora meninas!

Você pro almoço










Hei! Colha-me logo do jardim!
Cuidado onde toca!
Cuidado com minha boca!
Arrume um bom vaso pra mim!

Sei, não sou flor de jasmim
Mas engulo sempre uma mosca
E a escondo em minha toca!
Quem mais se alimenta assim?

Sou uma víbora sem osso
Me leve agora pra tua casa
Vou mastigar-te sem asas
Sou carnívora e tu, o almoço!