terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Automanha










Serei criança eterna
Rolarei na grama
Pintarei o 7
Jogarei fliperama
Derrubarei o 8
E dele farei autorama
Voo nas curvas do infinito

Caipirando










O cheiro de celeiro
Na beira da cachoeira
Um tronco de madeira

Guaranás fitando o ribeiro
Seiva do verde na leiva
A terra dá sede e cativa

Flores ninfas do céu
Exalam de pernas abertas
Cores filhas de estrelas

Pingo de chuva no rosto
A tarde que vira saudade
Domingo revela a idade

O fácil do ócio no encosto
O Sol se põe com leveza
Acena num tom de tristeza

No fim faço o que posso
Rezo com pose de bom moço

Preciso de tudo isso
E mais um poço

Lagos, cavalos, galos
Regalos em gargalos...

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Nem digo













Andar
Descalço
Amortecer
O peso
Amanhecer
Pedaços

À noite ser
Cheiro de morte
Nos bueiros

A última ceia?










Há um rastro de macas
Há um risco de faca
Tatuado no meio do peito
E um crucifixo molhado
Com cheiro de soro
Que escorre no leito

Há um som de reclame
Enquanto não chega o exame
Mais uma fita cortada
Mas a Rita coitada
Quase teve um derrame
Com a voz do prefeito

Ponha o nojo no estojo
Guarde a ferramenta
E o chicle de pimenta
Mascado dentro do bojo

Deixe o suor aliviar a dor
Do corpo cansado
A morte é iminente

E não faz mal
Hoje é passado
Amanhã é Natal
Viva o presente

sábado, 3 de dezembro de 2011

Placebo










Pontas dos dedos fecham os olhos
Palmas das mãos escoram a face
encoberta rendição
Alma cansada...
Às vezes mato um poeta

Quero um banho relaxante de Lua
Esparramar-me em nuvens densas
e ter o peso sob os meus ombros.
Inverso desejo

Meu céu é quase todo negro
se não fossem as estrelas
que me revelam
Mas ainda é cedo

Antes de esvair-se a madrugada
quero e percebo:
Preciso sem medo
engolir o Universo

Placebo, soluço, alvorada