sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Cantada à italiana










"Uma cantada de um português para uma jovem e bela italiana..."


Cantada à italiana
É vero que te quero
Mais do que tudo
E em tua língua espero
Dissolver o meu mundo.

Serei teu molho pardo
Prato predileto de rainha.
Depois o doce bastardo
Querendo que sejas minha.

Ou a azeitona da tua pizza.
Com orégano não me engano.
Já que és a dona, me belisca!
Meu gosto é mais do que profano.

Sabes que moro em Benfica
E que ainda sou lusitano
Mas sigo lembrando a dica
Pois entra ano e sai ano!

E quem não arrisca não petisca...

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Um bom semideus













Quero flutuar como nos meus sonhos em noites tranquilas. Sentir-me um pássaro nos dias de Sol sob à chuva da tarde. Mover pedras de lugar e virar conchas à beira-mar só com a força do pensamento. Além das barreiras, poder transpor paredes para espiar de perto. Tornar-me invisível e totalmente despido aos olhos nus.

Desativar as bombas das guerras vãs e travar os gatilhos de todas as armas. Morreriam sem a certeza sobre quem seria capaz de realizar tal proeza. Quero recarregar a bateria das pessoas tristes ao cantar em seus ouvidos e poder secar as lágrimas de qualquer choro animal com apenas um sopro.

Após tapar todas as chaminés das fábricas, restaria esvaziar os pneus de todos os veículos, desligar todas as máquinas e derreter todos os plásticos que moldam a sociedade.Com a febre de massa e o capital de terceira-idade seria radical com graça fazendo um enorme bolo fecal.

Eu saberia de novos inimigos, mas faria novos amigos, porém, aqueles que falam bem de mim pelas costas. E quando eu me deitasse para despertar em luz, sei que meus olhos-veneziana não abririam mais no escuro. Mesmo assim, sendo carne fria ou pó, com ou sem pedra marfim, a Terra não passaria fome, porque eu seria uma pétala e só mais uma poesia que se consome...

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A gruta










Após percorrer tanto a pé sobre uma trilha estreita, dentro de uma mata fechada, e de me deparar com tal beleza singular, precisei chegar mais perto para apreciá-la melhor. Passei a admirá-la cada vez mais, e toda visita que lhe fazia, meu fascínio aumentava.

A curiosidade era tanta, que eu passava horas à observá-la (Jamais ousaram adentrá-la). Fui o primeiro a descobri-la e a conhecer cada detalhe dessa bela obra da natureza. Permanece ainda tão misteriosa, com galhos no alto cobrindo a entrada, lembrando muito uma árvore-chorão. Galhos que flutuam suavemente, bailando ao vento. Mas ainda não sei por onde começar.

Continuo aflito e confesso que poder desbravá-la será romper um limite. O que poderá acontecer se algo der errado? E se minha lanterna falhar no escuro? E eu não conseguir achar o caminho de volta? Só de pensar me dá um calafrio na espinha!

Trago na mochila apenas uma fruta, algumas nozes e até um punhado de cubinhos de queijo, para acompanhar com um bom vinho tinto. A grande espera pela conquista! É, mas infelizmente, na garganta desta gruta, só poderei entrar e finalmente brindar, quando eu tiver um cálice para sempre...

domingo, 24 de outubro de 2010

Inércia ao sugo













Sou de vagar
Aos olhos velozes
Que de tão famintos
Só conhecem o vácuo
Entre a visão
E o buraco negro
Do estômago

A esperteza desconhece
A própria natureza
E ignora tanto os sabores
Da vida, da comida
Da partida, da reflexão
Da partilha, da conquista
Da boa música, da lágrima
E depois ou antes dela, um abraço

Correm mais que o sangue
De suas próprias veias

Mal sabem o quanto cresceu
Aquela árvore na calçada
Ou aqueles sobrinhos
-- Sobrinhos? --

E aquelas flores
Tão vivas e perfumadas
Resistindo sobre um chão
Feio e quebradiço,
Mas elas continuam belas
Mesmo que não digam nada
Afinal, ninguém conversa com elas

Isso sim é um feito
De sobre...vivência
Pois não basta apenas
Viver por viver
Então sobre..vivam!!!

Quando puderem
Mudem de frequência
Procurem sintonizar-se
Nas boas estações

Onde a chuva
Não é ácida o suficiente
Para corroer a bondade
Mesmo que contida
Daquela velha criança
Tão ingênua, mas que sonhava
E tinha muita esperança
(e eu quero tanto correr
novamente na chuva...)

Assim como as flores
O mundo quer ver
Tuas reais cores
Chega de céu cinzento!
Não bastassem as tosses
Dos veículos e fábricas
Dia-a-dia, a cada segundo

Enriqueçam sim,
Mas o espírito
Antes de tudo
Penso assim,
Mas confiram aí,
Se houver tempo
Nessa agenda pesada...

Ainda fazem da razão
O único tempero que sacia
Empedrando o coração
Nessa bacia de pura inércia
E nesse banho-maria
Além da matéria indigesta
Extrai-se apenas um molho:

A estupidez humana

sábado, 23 de outubro de 2010

A formiga e o chinelo amarelo










Mesmo que algo
Seja grande
O suficiente

Haverá sempre
Algo maior
Mesmo que você
Não veja de fato

O maior cume da Terra
É o início do espaço...

(Pensava uma garotinha ao ver uma
formiga carregando uma enorme folha,
contornando seu chinelo amarelo)

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Frio, um voyeur

Ébrio é o frio
Que se faz presente

É brio congelante
Indolor, indecente

É abril de outono
Mas ele? Sem sono

É febril no amor
No cio sem pudor
E debaixo do cobertor

Mais do que penetrante...

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Num gole seco














E a mente vaga
Nesse meio tempo.
Espaço curto do vento
Que sopra, mas não apaga
O que há por dentro.

Olhos-sentinelas
Enxergam distraídos.
Reviram o passado.
Reabrem janelas.

A palavra nem se fala.
Desce de volta correndo
Prum canto quente do peito.

Fere lenta como adaga.
Deixa de ser momento
Tatuando vermelho-chaga.

E ela me cala e se cala.
Logo os olhos despertam.
Como cães molhados chacoalham
Pra depois dissecá-la.

E nada mais houve desde então...

Eupífio, o poeta













Sou poeta de tigela cheia.
Só me alimento de versos
De sentimentos diversos
Quando a Lua me clareia.

Alma condensada no vidro
Da janela da varanda
Sou orvalho odor-lavanda
Quando escorro pelo cedro.

Moinho de águas doces
Transmutadas em puro vinho
Que embriagam o caminho
De vorazes peixes ésoces.

Sou morada das sementes.
No meu peito um jardim.
Sou um anjo sem clarim,
Mas serei pasquim se mentes.

Sou bangalô da selva!
A relva na ribanceira!
O balanço da cadeira!

E nos sinos de madeira
O vento que traz a chuva...

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Um recado à escuridão

Quando o sopro da morte me rodeia
Digo a ela que meu sangue
Ainda corre quente pela veia
E que meu destino jamais escurece
Quando minha alma se incendeia

Enquanto houver o ar
Hei de voar com as palavras
E quando eu suspirar vida
Num beijo estalado
Hei de fagulhar e derreter

O escuro das horas...